A caminho do Araguaia: três trajetórias militantes

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/15174522-104561

Palavras-chave:

trajetória militante, ditadura civil-militar, Guerrilha do Araguaia, comunismo

Resumo

Este artigo analisa as trajetórias militantes de Maurício Grabois, Elza Monnerat e João Amazonas, membros do Partido Comunista do Brasil enviados à região do Araguaia para organizar um movimento armado contra a ditadura civil-militar instaurada com o golpe de 1964. O objetivo é apreender o processo de construção do sentido de um engajamento político que implicava em alto risco para os militantes. Em diálogo com a literatura sobre movimentos sociais, são analisadas a disponibilidade biográfica dos agentes, sua identificação ideológica com o movimento, suas redes sociais e o impacto da repressão estatal. Mais velhos do que a média da esquerda armada do período, esses militantes compartilhavam uma longa trajetória no partido comunista, durante a qual as predisposições criadas com a socialização militante foram corroboradas por mudanças no contexto político nacional e internacional, experiências coletivas e individuais de perseguição, clandestinidade, prisão e pelas mudanças ocorridas no interior da sua organização.

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Biografia do Autor

Rafaela N. Pannain, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

Doutora em Sociologia, Universidade de São Paulo. Pós-doutorado, Cebrap.

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Publicado

2021-08-18

Como Citar

PANNAIN, R. N. A caminho do Araguaia: três trajetórias militantes. Sociologias, [S. l.], v. 23, n. 57, p. 300–325, 2021. DOI: 10.1590/15174522-104561. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/104561. Acesso em: 29 mar. 2024.