Dossiê Flusser: 100 anos
Em maio deste ano completam-se 100 anos do nascimento do filósofo tcheco Vilém Flusser, que a perseguição nazista da Segunda Guerra trouxe ao Brasil em 1940. Aqui, o filósofo migrante viveu por 30 anos, naturalizou-se brasileiro e adotou São Paulo como uma de suas cidades, onde lecionou e escreveu a primeira parte de sua vasta obra, com temáticas vão da teoria da linguagem aos gestos humanos, passando pelo estudo da tradução e por preocupações com o futuro da escrita e das comunicações.
É como teórico da mídia, contudo, que Flusser ficou conhecido em todo o mundo, principalmente por suas teorias sobre a pós-história e as imagens técnicas. Em diversos campos do conhecimento, Flusser é considerado um visionário, o que faz com que sua obra possa ser compreendida mais facilmente hoje do que em sua época. Ainda na década de 1980, o filósofo parecia antever muitas teorias que hoje são estudadas sobre a fotografia, a tradução e a relação arte-mídia.
Ao falecer em 1991, na fronteira entre a Alemanha e seu país natal, deixou um vasto legado cuja influência se espalha pelas Artes, pelo Design, pela Filosofia, pelas Letras e pela Comunicação, em várias línguas. Perspicaz em relação a um mundo altamente midiatizado e controlado pelas pontas dos dedos, Flusser cunhou conceitos que nos ajudam a navegar no caótico cenário da comunicação no século XXI, como “caixa preta”, “aparelho”, “codificação”, “imagem-técnica” e “ficção filosófica”. Sua originalidade desconcertante, contudo, foi considerada “profética”, o que limitou as contribuições teóricas desta que é uma das bases mais fecundas para pensarmos a produção midiática contemporânea.
Juntando-se às comemorações do centenário do autor, a Revista Intexto, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS, convida a comunidade acadêmica a contribuir para uma edição especial, a fim de refletir sobre a importância do pensamento flusseriano para as nossas pesquisas em Comunicação. O dossiê parte da seguinte questão: quais as contribuições de Vilém Flusser para a compreensão dos processos comunicacionais e midiáticos e qual sua influência sobre a pesquisa acadêmica da área no Brasil? Encorajamos submissões que explorem um ou mais dos seguintes itens, mas não limitados por eles:
Imagens técnicas
Pós-História
A relação arte-mídia
A escrita ensaística e o pensamento por imagens
A ficção filosófica e as novas epistemologias da comunicação
Relação ontológica entre a imagem técnica e a forma do pensar
Comunicologia como crítica da cultura
Abordagem culturalista dos problemas comunicacionais
Relações e oposições entre Natureza e Cultura
Relações e oposições entre Diálogo e Discurso
Filosofia do design
Perspectivas dialógicas para a Comunicação
Os gestos como dispositivos comunicacionais
Relação entre língua e realidade
Linguagem como a criação de mundos possíveis
Tradução como um problema comunicacional
Dispositivos enquanto caixas-pretas
Relações espaciais e criação de vínculos
Conceito e preconceito
A literatura como articuladora do senso de realidade
A liberdade dos “funcionários” na era dos aparelhos
História das mídias conforme Vilém Flusser
A biografia única de Flusser
Migração, expatriação e o estrangeiro