Brasil da financeirização: do consumo familiar à cooptação da assistência social

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/10.1590/15174522-101294

Palavras-chave:

Financeirização, baixas rendas, gastos, consumo, políticas assistenciais.

Resumo

Enquanto face mais recente do modo de acumulação capitalista, a financeirização reverbera, por um de seus tentáculos, na necessidade de acesso ao mercado bancário-financeiro e de bens pelas famílias de baixa renda. Isso se dá, primordialmente, para que possam assegurar direitos esvaziados pelo Estado, gerando explosões de consumo e endividamento alimentadoras do circuito neoliberal – caso do Brasil, sobretudo desde os anos 1990. Ao lado, o crescimento de mecanismos socioassistenciais, cujo pano de fundo é a promoção do bem-estar e das cidadanias, deixa de servir unicamente às suas pretensões originárias para também sustentar, transversalmente, o capital financeirizado. Em tal cenário, este trabalho objetiva verificar as dinâmicas de gasto e consumo familiares vigentes num Brasil marcado pelas desigualdades e por políticas públicas socioassistenciais na era financeirizada. Perquire a inserção na ciranda bancário-financeira das populações pauperizadas e o uso do fundo público para a remuneração de bancos. Metodologicamente, parte de pesquisa bibliográfica de teóricos clássicos e contemporâneos críticos da financeirização, aliada a dados secundários de consumo e gastos das famílias brasileiras, destacadamente aquelas rastreadas e atendidas por políticas assistenciais, assim como da execução orçamentária nacional. A análise aponta para a cooptação do Estado pela financeirização e a quebra dos objetivos originários das ações assistenciais.

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Biografia do Autor

Horígenes Fontes Soares Neto, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Economia Regional e Políticas Públicas (UESC/BA). Especialista em Direito Público (FDJ/SP). Especialista em Prática Trabalhista e Processual Civil (FAINOR/BA). Professor Titular do Departamento de Ciências Jurídicas (UNIME Itabuna/BA). Advogado. Pesquisador integrante do Grupo de Estudos Socioeconômicos Regionais e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC/BA), registrado no CNPq.

Lessi Inês Farias Pinheiro, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Doutora em Serviço Social (PUC/RS). Mestre em Economia Europeia e Políticas Comunitárias (Universidade de Coimbra). Graduada em Ciências Econômicas (PUC/RS). Atualmente é professora nível pleno da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC/BA), onde é vinculada ao Departamento de Ciências Econômicas. Coordenou os cursos de Ciências Econômicas (2010/2012). Foi Pró-reitora de Administração e Finanças (2012/2013) e coordenadora do Mestrado em Economia Regional e Políticas Públicas (2016/2017). É líder do Grupo de Estudos Socioeconômicos Regionais e Políticas Públicas, registrado no CNPQ.

Marcelo Inácio Ferreira Ferraz, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Doutor e Mestre em Estatística e Experimentação Agropecuária (UFLA/MG). Graduado em Ciências Econômicas (UFSJ/MG). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC/BA), vinculado ao Departamento de Ciências Exatas. Foi Assessor de Planejamento (ASPLAN) (2014/2019) e Presidente da Comissão Própria de Auto-avaliação (CPA) da UESC. Ministra disciplinas de Estatística no curso de graduação em Ciências Econômicas, no Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente e no Mestrado em Economia Regional e Políticas Públicas.

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Publicado

2021-08-18

Como Citar

SOARES NETO, H. F.; FARIAS PINHEIRO, L. I.; FERREIRA FERRAZ, M. I. Brasil da financeirização: do consumo familiar à cooptação da assistência social. Sociologias, [S. l.], v. 23, n. 57, p. 356–384, 2021. DOI: 10.1590/10.1590/15174522-101294. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/sociologias/article/view/101294. Acesso em: 28 mar. 2024.