O desmonte da máquina-cinema: Pedro Costa e a estética do residual

Autores

  • Osmar Gonçalves dos Reis Filho Universidade Federal do Ceará (UFC) / Professor Associado do Programa de Pós-Gradução em Comunicação (PPGCOM-UFC) https://orcid.org/0000-0002-3986-9008
  • David Leitão Aguiar Universidade Federal do Ceará/ Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM-UFC) https://orcid.org/0000-0001-9192-7626

DOI:

https://doi.org/10.19132/1807-8583202152.109802

Palavras-chave:

Dessubjetivação, Estética do residual

Resumo

 

Ao termino de Ossos (filme de 1997), rodado nas Fontainhas, gueto lisboeta de cabo-verdianos, Pedro Costa percebe-se afetado por suas experiências no bairro e vê suas afetações não se concretizarem em suas imagens. Entre Costa e o fenômeno “Fontainhas” havia a máquina-cinema: um poder maquínico que desregula corpos e fenômenos e os recompõem num regime de imagens incapaz de dar forma visual às realidades residuais. Segundo pesquisadores que dialogam com a teoria das imagens – Jean-Louis Comolli, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Vilém Flusser, entre outros – as tecnologias de poder, e aqui ressaltamos os dispositivos midiático-imagéticos, administram a produção simbólica de uma realidade determinada, e têm por estratégia produzir subjetividades subservientes (ou dessubjetivações) em proveito de um determinado projeto político.  Apostamos que Costa, sobretudo em Juventude em marcha (filme de 2006), ao estabelecer um método político-estético para um subversivo regime de imagens, sua estética do residual, agenciará uma série de estratégias para efetuar um desmonte – ao menos uma remontagem – da máquina-cinema. 

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Biografia do Autor

Osmar Gonçalves dos Reis Filho, Universidade Federal do Ceará (UFC) / Professor Associado do Programa de Pós-Gradução em Comunicação (PPGCOM-UFC)

Osmar Gonçalves é doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010), com bolsa-sanduíche na Bauhaus-Universität (Alemanha), financiada pelo DAAD/Capes. Realizou pós-doutorado em Cinema e Arte Contemporânea na Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 (2015), com bolsa Capes. Atualmente, é Professor Associado do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará, concentrado principalmente nas áreas de fotografia, teoria da imagem e estética do audiovisual. É Diretor Científico da Compós (Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação) e líder do IMAGO - Laboratório de Estudos de Estética e Imagem. Coordena o projeto de pesquisa Do visível ao inapresentável: apontamentos sobre a fotografia latino-americana contemporânea, financiado pelo CNPq (Edital Universal - MCTI/CNPQ Nº 01/2016). Tem cooperações acadêmicas com pesquisadores do Laboratoire International de Recherches en Arts da Sorbonne Nouvelle (França), da Ruhr-Universität Bochum (Alemanha), da UFRJ, da UnB, da USP, da Unicamp e da UFPE. Foi Coordenador do GT Comunicação, Artes e Tecnologias da Imagem da Compós entre 2018 e 2019, do ST Interseções Cinema e Arte da Socine entre 2016 e 2019, e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC entre 2017 e 2019. Organizou os livros Narrativas Sensoriais: ensaios sobre cinema e arte contemporânea (Circuito, 2014), ganhador do Prêmio FUNARTE de Estímulo à Produção Crítica em Artes Visuais e, junto com Susana Dobal, Fotografia Contemporânea: fronteiras e transgressões (Casa das Musas, 2013). Realiza ainda atividades como parecerista/consultor para CAPES, CNPq e para diversas revistas nacionais e internacionais na área de Comunicação, Fotografia, Cinema e Artes.
 

David Leitão Aguiar, Universidade Federal do Ceará/ Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM-UFC)

Titulado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Mestre e doutorando em Comunicação Social na linha de pesquisa em Fotografia e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atua na academia como pesquisador nas áreas de cinema e teoria da imagem, semiótica da cultura, filosofia e história da arte, biopolítica, . Participa do grupo de pesquisa IMAGO – laboratório de estudos de estética e imagem (UFC), coordenado pela Professora Doutora Gabriela Frota Reinaldo e pelo Professor Doutor Osmar Gonçalves. Tem escrito artigos, bem como, ministrado minicursos e participado de mesas redundas em diversas instituições. Vem pesquisando, especialmente, acerca do cinema contemporâneo e sua estética política. Participou no Colóquio Internacional de Évora: Pedro Costa – Cinema e Pensamento (Portugal, 2016), apresentando o trabalho: "Extracampo e explosão poética nas fronteiras de Fontainhas. Participou da mesa redonda Narrativas do Invisível, apresentando o Trabalho de pesquisa do longa-metragem "Currais: dos campos à concentração", na Mostra Rumos 2017 (São Paulo). 
 
O seu primeiro filme de longa-metragem, “Currais”, no qual atuou como pesquisador, roteirista, diretor, e montador, teve sua estreia na 22ª Mostra de Cinema Tiradentes. Recebeu vários prêmios como: Melhor Filme de Diretor Estreante na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2019); Melhor filme na Mostra Olhar do Ceará - 29º CINE CEARÁ; Melhor Direção, Fotografia, Atriz e Direção de Arte no 14º Fest Aruanda, Melhor direção no Amazônia Doc e foi selecionado em festivais internacionais ao exemplo do FIDBA – International Documentary Film Festival, Buenos Aires

 
Como realizador em cinema costuma atuar nas funções de pesquisador, roteirista, direção, direção de fotografia e montagem. Realizou diversos curtas-metragens, os quais foram selecionados e premiados em mostras e festivais nacionais e internacionais.

Ao lado da realizadora Sabina Colares, coordena e é professor do curso Educando o Olhar – Curso Básico Profissionalizante de Cinema, realizado em escolas públicas do Ceará, para alunos entre 16 e 19 anos. Também realizou o curso de Documentário no projeto Preamar Doc Porto, realizando com os alunos dois documentários híbridos: "Matraca" e "Rastros". Na ONG Casa de Vovó Dedé, lecionava no curso de audiovisual. Na Vila das Artes, no Projeto Ponto de Corte, ministrou a disciplina de História, Estética e Linguagem do Cinema, bem como foi monitor nas disciplinas de Semiótica e Direção de Fotografia no Curso de Graduação em Cinema da UFC. 

Foi diretor da Produtora Comunik Filmes entre os anos de 2006 e 2013. Atuava no seguimento publicitário com ênfase em VT`s para TV e documentários institucionais, além de trabalhos para assessoria e cobertura audiovisual de festivais de cinema. É diretor da produtora Além Mar Filmes, realizando cinema, projetos culturais e em arte-educação. 

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Publicado

2021-05-03

Como Citar

Filho, O. G. dos R., e D. L. Aguiar. “O Desmonte Da máquina-Cinema: Pedro Costa E a estética Do Residual”. Intexto, nº 52, maio de 2021, p. 109802, doi:10.19132/1807-8583202152.109802.

Edição

Seção

Artigos