Dossiê Flusser: 100 anos

2020-04-07

Em maio deste ano completam-se 100 anos do nascimento do filósofo tcheco Vilém Flusser, que a perseguição nazista da Segunda Guerra trouxe ao Brasil em 1940. Aqui, o filósofo migrante viveu por 30 anos, naturalizou-se brasileiro e adotou São Paulo como uma de suas cidades, onde lecionou e escreveu a primeira parte de sua vasta obra, com temáticas vão da teoria da linguagem aos gestos humanos, passando pelo estudo da tradução e por preocupações com o futuro da escrita e das comunicações. 

É como teórico da mídia, contudo, que Flusser ficou conhecido em todo o mundo, principalmente por suas teorias sobre a pós-história e as imagens técnicas. Em diversos campos do conhecimento, Flusser é considerado um visionário, o que faz com que sua obra possa ser compreendida mais facilmente hoje do que em sua época. Ainda na década de 1980, o filósofo parecia antever muitas teorias que hoje são estudadas sobre a fotografia, a tradução e a relação arte-mídia.

Ao falecer em 1991, na fronteira entre a Alemanha e seu país natal, deixou um vasto legado cuja influência se espalha pelas Artes, pelo Design, pela Filosofia, pelas Letras e pela Comunicação, em várias línguas. Perspicaz em relação a um mundo altamente midiatizado e controlado pelas pontas dos dedos, Flusser cunhou conceitos que nos ajudam a navegar no caótico cenário da comunicação no século XXI, como “caixa preta”, “aparelho”, “codificação”, “imagem-técnica” e “ficção filosófica”. Sua originalidade desconcertante, contudo, foi considerada “profética”, o que limitou as contribuições teóricas desta que é uma das bases mais fecundas para pensarmos a produção midiática contemporânea.

Juntando-se às comemorações do centenário do autor, a Revista Intexto, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS, convida a comunidade acadêmica a contribuir para uma edição especial, a fim de refletir sobre a importância do pensamento flusseriano para as nossas pesquisas em Comunicação. O dossiê parte da seguinte questão: quais as contribuições de Vilém Flusser para a compreensão dos processos comunicacionais e midiáticos e qual sua influência sobre a pesquisa acadêmica da área no Brasil? Encorajamos submissões que explorem um ou mais dos seguintes itens, mas não limitados por eles:

  • Imagens técnicas

  • Pós-História

  • A relação arte-mídia

  • A escrita ensaística e o pensamento por imagens

  • A ficção filosófica e as novas epistemologias da comunicação

  • Relação ontológica entre a imagem técnica e a forma do pensar

  • Comunicologia como crítica da cultura

  • Abordagem culturalista dos problemas comunicacionais

  • Relações e oposições entre Natureza e Cultura

  • Relações e oposições entre Diálogo e Discurso

  • Filosofia do design

  • Perspectivas dialógicas para a Comunicação

  • Os gestos como dispositivos comunicacionais

  • Relação entre língua e realidade

  • Linguagem como a criação de mundos possíveis

  • Tradução como um problema comunicacional

  • Dispositivos enquanto caixas-pretas

  • Relações espaciais e criação de vínculos

  • Conceito e preconceito

  • A literatura como articuladora do senso de realidade

  • A liberdade dos “funcionários” na era dos aparelhos

  • História das mídias conforme Vilém Flusser

  • A biografia única de Flusser

  • Migração, expatriação e o estrangeiro

 Organizadores: Erick Felinto (UERJ), Marcio Telles (UFRGS), Osmar Gonçalves (UFC)