O dispositivo empresarial, a reforma trabalhista e seus embates em enunciados midiáticos

Autores

  • Alyssa Magalhães Prado Universidade Federal de Uberlândia http://orcid.org/0000-0002-1144-311X
  • João Wachelke Universidade Federal de Uberlândia
  • Kátia Menezes de Sousa Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.19132/1807-8583202152.89828

Palavras-chave:

Trabalho, Trabalhador, Dispositivo, Empresarial, Jurídico

Resumo

Este artigo tem como objetivo problematizar o dispositivo empresarial e seus embates, por meio da análise de enunciados e práticas discursivas veiculadas em jornais brasileiros sobre a reforma trabalhista de 2017. O trabalho se norteou pela questão quanto ao funcionamento desse dispositivo e suas reverberações subjetivas nas relações humanas. O conceito de dispositivo é pensado e utilizado por autores como Foucault, Deleuze e Agamben, para refletir sobre um conjunto de elementos heterogêneos, que envolvem ditos e não ditos, a fim de organizar os jogos saber/poder que circulam socialmente. As contribuições especialmente foucaultianas e de alguns autores que estão se debruçando em estudos sobre o contexto neoliberal deram o aporte teórico-metodológico a pesquisa. O processo de triagem do material aconteceu a partir da pesquisa por notícias sobre a reforma trabalhista, selecionando cinco que possuíam como foco principal os empresários. Sendo assim, foi exposto um material de análise contendo algumas instâncias enunciativas e pontuadas algumas interpretações, utilizando, enquanto ferramenta, a análise discursiva foucaultiana. Os enunciados revelam o lugar de protagonismo e referência destinado aos empresários. A criação de supostos embates e lutas estão claras a partir da construção de duas posições-sujeito: o dos direitos e demandas sociais e o da competitividade e mercado. Em suma, o dispositivo empresarial vai se delineando como protagonista do meio social, enfraquecendo outros dispositivos consolidados, como o jurídico, mas sem deixar de suscitar oposições e embates contrários, que podem produzir resistências e novas possibilidades de existência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alyssa Magalhães Prado, Universidade Federal de Uberlândia

Psicóloga formada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

João Wachelke, Universidade Federal de Uberlândia

Doutor em Psicologia Social e da Personalidade pela Università degli studi di Padova (Itália). Professor adjunto do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Coordenador do grupo de pesquisa Eclipse – Laboratório de Ideologia e Percepção Social – Uberlândia, MG, Brasil.

Kátia Menezes de Sousa, Universidade Federal de Goiás

Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora associada da Universidade Federal de Goiás.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. p. 25-51.

AGÊNCIA IBGE NOTICIAS. Desemprego recua em dezembro, mas taxa média do ano é a maior desde 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 9 jan. 2018.

BRASIL. Lei n° 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943, e as Leis n° 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 14 jul. 2014.

CARVALHO, Sandro Sancchet de. Uma visão geral sobre a reforma trabalhista. Mercado de trabalho, Brasília, n. 63, p. 81-94, 2017.

CARVALHO, Pedro Henrique Varoni de; SARGENTINI, Vanice Maria Oliveira. Dispositivo, discurso e produção de subjetividades. In: FERNANDES JÚNIOR, Antônio; SOUSA, Kátia Menezes de (org.). Dispositivos de poder em Foucault: práticas e discursos da atualidade. Goiânia: Gráfica da UFG, 2014.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

DELEUZE, Gilles. O que é um dispositivo? In: DELEUZE, Gilles. O mistério de Ariana. Lisboa: Vega, 2005. p. 83-96.

DINIZ, Ana Carolina. Reforma trabalhista: o que muda para os micro e pequenos empresários. O Globo, Rio de Janeiro, 19 nov. 2017.

DINIZ, Francisco Rômulo Alves; OLIVEIRA, Almeida Alves de. Foucault: do poder disciplinar ao biopoder. Scientia, Sobral, v. 2, n. 3, p. 143-158, 2014.

EMPRESÁRIOS reagem a críticas da OIT à reforma trabalhista. Correio Braziliense, Brasília, 5 jun. 2018.

EMPRESÁRIOS do Estado comemoram aprovação da reforma trabalhista. Gazeta Online, Vitória, 12 jul. 2017.

FARIA, José Eduardo. O sistema brasileiro de Justiça: experiência recente e futuros desafios. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 51, p. 103-125, 2004.

FILGUEIRAS, Luiz. O neoliberalismo no Brasil: estrutura, dinâmica e ajuste do modelo econômico. In: BASUALDO, Eduardo; ARCEO, Enrique (org.). Neoliberalismo y sectores dominantes: tendencias globales y experiências nacionales. Buenos Aires: CLACSO, 2006. p. 179-206.

FONSECA, Francisco. Mídia, poder e democracia: teoria e práxis dos meios de comunicação. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 6, p. 41-69, 2011.

FORNERO, Giovanni. Genealogia do Poder. In: ABBRAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2003.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Uma estética da existência. In: FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 288-293. (Coleção Ditos e escritos, 5).

FOUCAULT, Michel. Resposta a uma questão. In: FOUCAULT, Michel. Repensar a política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 1-24.

PEREIRA, Reneé. Empresários comemoram aprovação da reforma trabalhista. Exame, São Paulo, 12 jul. 2017.

PERES, Rodrigo Sanches; SILVA, Juliana Azevedo da; CARVALHO, Ana Maria Rodrigues de. Um olhar psicológico acerca do desemprego e da precariedade das relações de trabalho. Psicologia, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 97-110, 2003.

PERRIN, Fernanda. Veja o que muda para empresários e empregados com a reforma trabalhista. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 jul. 2017.

PERUCCHI, Juliana; TONELI, Maria Juracy Filgueiras. Aspectos políticos da normalização da paternidade pelo discurso jurídico brasileiro. Psicologia Política, São Paulo, v. 15, n. 15, p. 139-156, 2008.

VEYNE, Paul. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

Downloads

Publicado

2021-05-24

Como Citar

Prado, A. M., J. Wachelke, e K. M. de Sousa. “O Dispositivo Empresarial, a Reforma Trabalhista E Seus Embates Em Enunciados midiáticos”. Intexto, nº 52, maio de 2021, p. 89828, doi:10.19132/1807-8583202152.89828.

Edição

Seção

Artigos