Construindo sombras com “ideologia de gênero”

deslizamentos discursivos em postagens no Twitter de atores políticos da Nova Direita (2014-2019)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.19132/1807-8583.55.124033

Palavras-chave:

discurso político, ideologia de gênero, nova direita, comunicação política, Análise do discurso

Resumo

O termo ideologia de gênero foi recorrentemente empregado em embates políticos no Brasil e o sentido dessa expressão variou ao longo dos anos. Considerando esses deslizamentos de sentido, este artigo objetiva analisar as estratégias discursivas de comunicação política que mobilizaram o termo ideologia de gênero em postagens no Twitter. Para tanto, foi recortado um corpus com 205 posts da intitulada Nova Direita, entre 2014 e 2019, por meio da plataforma Twitter Advanced Search. A análise, de caráter quantitativo com interpretação qualitativa, fundamenta-se nos estudos do discurso de linha francesa de Michel Pêcheux a partir de conceitos como interdiscurso, formação discursiva, posição de sujeito e efeito de sentido. Ao verificar a evolução diacrônica na maneira como “ideologia de gênero” foi alocada no discurso político, notou-se que deslizar o sentido do termo foi uma estratégia comunicativa instrumentalizada, ano após ano, a fim de buscar a polarização política através da consolidação de dois campos interdiscursivos: um que insere a “ideologia de gênero” em oposição às “lutas” da nova direita, como a “defesa da família” e o “combate” ao comunismo, e outra, que insere a “ideologia de gênero” subordinada e pertencente à esquerda, ao comunismo, à corrupção, à universidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gilmar da Silva Montargil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestre em Estudos de Linguagem pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGEL/UTFPR) e mestrando em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS). Bolsista Capes, membro do Núcleo de Pesquisa Corporalidades do Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação (GPESC)

Maria de Lourdes Rossi Remenche, Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Pós-doutora em Ciências da Educação pela Universidade do Minho (UM/PT) e Doutora em Linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Professora Associada do Departamento Acadêmico de Linguagem e Comunicação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Linguística Aplicada (GRUPLA)

Referências

ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. O método nas ciências sociais. In: ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1999. p. 108-188.

ARENDT, Hannah. Truth and politics. In: ARENDT, Hannah. Between past and future: eight exercises in political thought. Nova York: Penguin, 1977. p. 227-264.

ARENDT, Hannah. Religião e política. In: ARENDT, Hannah. A dignidade da política: ensaios e conferências. 3. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002. p. 91-115.

AVRITZER, Leonardo. Política e Antipolítica nos dois anos de governo Bolsonaro. In: AVRITZER, Leonardo; KERCHE, Fábio; MARONA, Marjorie (org.). Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. p. 13-20.

BAKIR, Viam; MCSTAY, Andrew. Fake News and the economy of emotions: problems, causes, solutions. Digital Journalism, Abingdon, v. 6, n. 2, p. 154-175, 2018.

BELK, Russel. Extended self in a digital world. Journal of Consumer Research, Chicago, v. 40, n. 3, p. 477-500, 2013.

BIROLI, Flavia; VAGGIONE, Juan Marco; MACHADO, Maria das Dores Campos Machado. Gênero, neoconservadorismo e democracia: disputas e retrocessos na América Latina. São Paulo: Boitempo, 2020.

BOITO JR, Armando. Por que caracterizar o bolsonarismo como neofascismo. Crítica Marxista, Campinas, n. 50, p. 111-119, 2020.

BOZON, Michel. Sociologia da Sexualidade. Rio de janeiro: FGV, 2004.

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução na França. In: WEFFORT, Francisco C. (org). Os clássicos da política Vol. 2. São Paulo: Editora Ática, 1989. p. 31-45.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

CÊPEDA, Vera Alves. A Nova Direita no Brasil: contexto e matrizes conceituais. Mediações, Londrina, v. 23, p. 75-122, mai./ago. 2018.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2013.

CIOCCARI, Deysi; PERSICHETTI, Simonetta. Armas, Ódio, Medo e Espetáculo em Jair Bolsonaro. Revista Altejor, São Paulo, v. 2, n. 18, p. 201-214, jul./dez. 2018.

CODATO, Adriano; BOLOGNESI, Bruno; ROEDER, Carolina Matos. A nova direita brasileira: uma análise da dinâmica partidária e eleitoral do campo conservador. In: CRUZ, Sebastião Velasco; KAYSEL, André; CODAS, Gustavo (org.). Direita, volver!: o retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Perseu Abramo, 2015. p. 115-144.

COHEN, Stanley. Folk devils and moral panics. London and New York: Routledge, 2002.

DOURADO, Tatiana Maria Silva Galvão. Fake News na eleição presidencial de 2018 no Brasil. Tese (Doutorado em Comunicação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas, Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, 2020.

DUDA DA SILVA, Ederson. As bases da nova direita: estudo de caso do Movimento Brasil Livre na cidade de São Paulo. Conversas & Controvérsias, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 75-95, 28 set. 2018.

ESCOSTEGUY, Ana Carolina Damboriarena. Comunicação e Gênero no Brasil: discutindo a relação. Revista Eco-Pós, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 103-138, 2020.

FAGUNDES, Pedro Ernesto. Os primeiros anos da Ação Integralista Brasileira (AIB): da Sociedade de Estudos Políticos (SEP) ao I Congresso Nacional da AIB. In: VICTOR, Rogério Lustosa (org). À direita da Direita: estudos sobre o extremismo político no Brasil. Goiânia: Editora da PUC Goiás, 2011. p. 47-63.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

GOHN, Maria da Glória. Manifestações e protestos no Brasil: correntes e contracorrentes na atualidade. São Paulo: Cortez, 2017.

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

HALBERSTAM, Jack. Female Masculinity. Durham: Duke University Press, 1998.

HALBERSTAM, Jack. Queer Gaming: gaming, hacking, and going turbo. In: RUBERG, Bonnie; SHAW, Adrienne. Queer Game Studies. Minneapolis: University Minnesota Press. 2017. p. 187-199.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 2006.

IDEIA BIG DATA/AVAAZ. Eleições e Fake News. São Paulo, out. 2018.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostras a Domicílios Contínuos. Rio de Janeiro, 2017.

LACERDA, Marina Basso. O novo conservadorismo brasileiro. Zuok: Porto Alegre, 2019.

MERCADANTE, Paulo. A consciência conservadora no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1972.

MESSENBERG, Débora. A direita saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 32, n. 3, p. 621-647, set./dez. 2017.

MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. "Ideologia de gênero": notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 32, n. 3, p. 725-747, set./dez. 2017.

PARISER, Eli. The filter bubble: How the new personalized web is changing what we read and how we think. London: Penguin Books, 2012.

PÊCHEUX, Michel. Análise automática do discurso. In: GADET, Françoise; HAK, Tony (org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução a Michel Pêcheux. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1997. p. 61-162.

PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. 4. ed. Pontes Editores: Campinas, 2006.

PÊCHEUX, Michel. Papel da memória. In: ACHARD, Pierre (org.) Papel da memória. Campinas: Pontes, 1999. p. 49-57.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

PÊCHEUX, Michel; FUCHS, Catherine. A propósito da Análise Automática do Discurso: atualizações e perspectivas. In: GADET, Françoise; HAK, Tony (org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução a Michel Pêcheux. Campinas, SP: Editora da Unicamp. 1997. [1975]. p. 163-252.

PLATÃO. A alegoria da caverna. Brasília: LGE Editora, 2006.

PLENÁRIO - Sessão de votação - 18/06/2019 - 14:00. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (5 min.). Publicado pelo canal Câmara dos deputados. Disponível em: https://youtu.be/HZO2SRwN1HY. Acesso em: 20 de jun. 2019.

RAGO, Margareth. Os impactos dos feminismos e dos estudos de gênero no currículo educacional. [Entrevista cedida a] Fabiane Freire França e Delton Aparecido Felipe. e-Curriculum, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 550-562, 2017.

REIS, Toni; EGGERT, Edla. Ideologia de gênero: uma falácia construída sobre os Planos de Educação brasileiros. Educação & Sociedade, Campinas, v. 38, n. 138, p. 9-26, jan./mar. 2017.

ROCHA, Camila. 'Menos Marx, mais Mises': uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018). 2019. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

ROTHBARD, Murray N. Esquerda & Direita: perspectivas para a liberdade. Campinas: Vise Editorial, 2016.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil: 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

SOUZA, Cláudio André de. Antipetismo e ciclo de protestos no Brasil: uma análise das manifestações ocorridas em 2015. Em Debate, Belo Horizonte, v. 8, n. 3, p. 35-51, mai. 2016.

TAKAHASHI, Fábio et al. A posição ideológica de mil influenciadores no Twitter. Folha de S. Paulo, São Paulo, 6 maio 2019. Disponível em: https://temas.folha.uol.com.br/gps-ideologico/reta-ideologica/a-posicao-ideologica-de-mil-influenciadores-no-twitter.shtml Acesso em: 29 maio. 2020.

VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; WAAL, Martijn de. The platform society: public values in a connective world. New York: Oxford University Press, 2018.

WARDLE, Claire. More Than Fake News -- Understanding the Disinformation Ecosystem. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (12 min 35s). Publicado pelo canal Frank Gathering. Disponível em: https://youtu.be/F1xXOBzzTwc. Acesso em: 2 ago. 2020.

ZARZALEJOS, José Antônio. Comunicação, jornalismo e fact-checking. Revista Uno, São Paulo, n. 27, p. 11-13, 2017.

APÊNDICE A – Tweets analisados

BOLSONARO, Carlos. IDEOLOGIA DE GÊNERO... [S. l.], 1 jun. 2016. Twitter: @CarlosBolsonaro. Disponível em: https://twitter.com/CarlosBolsonaro/status/738085057794052096. Acesso em: 1 jan. 2021.

BOLSONARO, Eduardo. Ajude-nos... [S. l.], 27 ago. 2018. Twitter: @BolsonaroSP. Disponível em: https://twitter.com/BolsonaroSP/status/1034018888722333697. Acesso em 1 jan. 2021.

BOLSONARO, Flávio. Feliz Dia das Crianças... [S. l.], 12 out. 2016. Disponível em: https://twitter.com/FlavioBolsonaro/status/786276185722458112. Acesso em: 1 jan. 2021.

BOLSONARO, Jair. Nossos filhos... [S. l.], 15 jun. 2016. Twitter: @jairbolsonaro. Disponível em: https://twitter.com/jairbolsonaro/status/743034164274995200?s=17. Acesso em: 1 jan. 2021.

BOLSONARO, Jair. O brasileiro... [S. l.], 16 ago. 2018. Twitter: @jairbolsonaro. Disponível em: https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1030195503907196929?s=17. Acesso em 1 jan. 2021.

FELICIANO, Marco. Ideologia de gênero?... [S. l.], mar. 2014. Twitter: @marcofeliciano. https://twitter.com/marcofeliciano/status/445241081454948353. Acesso em: 1 jan. 2021.

FELICIANO, Marco. Nossa bandeira... [S. l.], 10 nov. 2017. Twitter: @marcofeliciano. Disponível em: https://twitter.com/marcofeliciano. Acesso em: 4 out. 2022.

FELICIANO, Marco. Que Introduzirá... [S. l.], abr. 2014. Twitter: @marcofeliciano. https://twitter.com/marcofeliciano/status/453151672127455232. Acesso em 1 jan. 2021.

FROTA, Alexandre. Porra como tá chato... [S. l.], out. 2017. Twitter: @alefrotabrasil. Disponível em: https://twitter.com/alefrotabrasil/status/924516847839571968. Acesso em: 1 jan. 2021.

HASSELMANN, Joice. Judith Butler.... [S. l.], 31 out. 2017. Twitter: @joicehasselmann. Disponível em: https://twitter.com/joicehasselmann/status/925394750890479617. Acesso em: 1 jan. 2021.

Downloads

Publicado

2023-01-01

Como Citar

Montargil, G. da S., e M. de L. R. Remenche. “Construindo Sombras Com ‘ideologia De gênero’: Deslizamentos Discursivos Em Postagens No Twitter De Atores políticos Da Nova Direita (2014-2019)”. Intexto, nº 55, janeiro de 2023, p. 124033, doi:10.19132/1807-8583.55.124033.

Edição

Seção

Artigos