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Educadores em Territórios de Sociabilidade Política (Brasil, 1934-1935)

RESUMO

O artigo analisa o engajamento de educadores que se dispuseram a enfrentar problemas de instrução e cultura, para além dos limites institucionais da escola e dos aspectos pedagógicos e instrumentais da educação, se envolvendo nas lutas pela reconstrução nacional por meio do associativismo. A partir de impressos de época, a análise tomou como referência a atuação do Club de Cultura Moderna, agremiação de tendência antifascista. O exame das fontes, na sua correlação com as condições culturais, políticas e sociais do período, permitiu acompanhar o processo de formação da associação em interdependência com as sensibilidades e solidariedades operantes na constituição das formas de intervenção daquela associação no debate público.

Palavras-chave
Associativismo; Club de Cultura Moderna; História da Educação

ABSTRACT

The article analyzes the engagement of educators who were willing to face problems of education and culture, beyond the institutional limits of the school and the pedagogical and instrumental aspects of education, getting involved in the struggles for national reconstruction through associativism. Based on periodicals, the analysis took as a reference the actions of the Club de Cultura Moderna, an anti-fascist association. The examination of the sources, in their correlation with the cultural, political and social conditions of the period, made it possible to follow the process of formation of the association in interdependence with the sensitivities and solidarities operative in the constitution of that association’s forms of intervention in the public debate.

Keywords
Associativism; Club of Modern Culture; History of Education

Introdução

Um traço marcante na história da educação brasileira dos anos de 1930 é a presença de educadores reunidos em associações. Àquela época, territórios de sociabilidade, como as associações, foram criados com a finalidade de instituir espaços de militância capazes de influir nos rumos da vida política e cultural do País. Isso porque, assim como a educação ocupou um lugar estratégico nas propostas de reconstrução nacional daquele período, parte representativa da intelectualidade engajada nas lutas políticas e ideológicas transitava pelos domínios da educação, ocupando, inclusive, cargos diretivos na instrução pública.

Tendo em conta tais aspectos, o artigo analisa o engajamento de educadores que se dispuseram a enfrentar problemas de instrução e cultura, para além dos limites institucionais da escola e dos aspectos pedagógicos e instrumentais da educação, se envolvendo nas lutas pela reconstrução nacional por meio do associativismo. A partir de impressos de época, tomou-se, como referência, a atuação do Club de Cultura Moderna, agremiação de tendência antifascista. O exame das fontes, na sua correlação com as condições culturais, políticas e sociais do período, permitiu acompanhar o processo de formação da associação em interdependência com as sensibilidades e solidariedades operantes na constituição das formas de intervenção daquela associação no debate público.

Experiência Associativa como Figuração: aportes à análise do Club de Cultura Moderna

Ao examinar perspectivas teóricas que se dedicam a subsidiar à análise dos benefícios democráticos das associações, Lígia Helena Hahn Lüchmann (2014)LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Abordagens Teóricas sobre o Associativismo e seus Efeitos Democráticos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 29, n. 85, p. 159-178, ago. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69092014000200011. Acesso em: 5 jul. 2020.
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aponta que a importância das associações para a democracia se revela em boa medida pela oportunidade de os indivíduos tomarem parte das decisões políticas e dos julgamentos coletivos em favor do bem comum de forma mais igualitária.

Por certo, como explica a autora, diferentes tipos de associações provocam diferentes efeitos democráticos ou efeitos similares por razões distintas. Isso porque as concepções de democracia que as sustentam podem ser variadas, assim como diversos podem ser os interesses, conflitos e relações de poder no interior do próprio campo associativo. Além disso, algumas associações se organizam com finalidades bem modestas em relação aos pressupostos democráticos. Já outras, podem promover o ódio, a discriminação e a violência. Por tudo isso, capturar a pluralidade do fenômeno associativo implica identificar as ambiguidades e os limites desse campo de ação social. Implica “[…] somar à dimensão dos agentes, como os seus objetivos e a maior ou menor capacidade de articulação, a configuração das condições culturais, econômicas, políticas e sociais”, qualificando essas características e relações (Lüchmann, 2014LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Abordagens Teóricas sobre o Associativismo e seus Efeitos Democráticos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 29, n. 85, p. 159-178, ago. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69092014000200011. Acesso em: 5 jul. 2020.
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, p. 173).

Buscando captar elementos da complexidade que envolvem as experiências associativas, conforme acima indicado, na consecução do objetivo que orienta este trabalho, é possível considerar o Club de Cultura Moderna como um espaço de relações humanas em interdependência, denominado figuração, tal como expresso na sociologia de Norbert Elias.

Para o autor, o conjunto das figurações humanas é constituidor daquilo que chamamos de sociedade e é no interior das figurações que ocorrem a formação de pensamentos e modos de agir, a circulação de projetos, bem como a fermentação e produção de novas ideias e condutas. O funcionamento de uma figuração contém níveis de interdependência e de integração que são operadas por forças reticulares expressas tanto por conhecimentos práticos, científicos ou ideológicos quanto por afetos, imprevistos, acasos e até mesmo por adesões e refrações inconscientes. Daí que, no processo de desenvolvimento do conhecimento, a aceitação de certas ideias é fruto do tensionamento permanente entre formas distanciadas e formas envolvidas de tratar o pensamento circundante numa dada sociedade e num determinado período histórico. Nesses termos, a estrutura das ideias e comportamentos humanos são “[…] primordialmente, determinados pela estrutura dos grupos humanos […] e não pelos ‘objetos’ da consciência ou pela própria consciência, chamemos a isso ‘lógica’, ‘razão’ ou o que quer que seja” (Elias, 2008aELIAS, Norbert. Sociologia do Conhecimento: novas perspectivas. Sociedade e Estado, [online], v. 23, n. 3, p. 515-554, set. 2008a. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922008000300002. Acesso em: 20 nov. 2012.
https://doi.org/10.1590/S0102-6992200800...
, p. 516)1 1 Tida como espaço de fermentação e circulação de ideias e de relações afetivas, o entendimento é de que, em alguns aspectos, a ideia de figuração guarda correlação com a noção de sociabilidades, ao modo proposto por Jean-François Sirinelli (2003). Na perspectiva do autor, certas formas de engajamento dos intelectuais constituem estruturas de sociabilidades nas quais atuam, de forma interpenetrada, o ideológico, a vontade e gosto de conviver, a contingência e o fortuito. Por isso mesmo, “[…] o sentimento e a afetividade algumas vezes prevalecem sobre a Razão” (Sirinelli, 2003, p. 260). .

No processo multireferenciado que envolve a formação de ideias e comportamentos, Elias também chama a atenção para a situação funcional do indivíduo numa dada figuração. Como as diferentes formas das relações humanas coexistem simultaneamente, as pessoas fazem parte de diversas figurações e ocupam posições diferentes nessas figurações. À medida que se complexifica a divisão funcional e o lugar de cada indivíduo na divisão funcional, as figurações se complexificam. Nessa dinâmica há diferenciais na distribuição de poder entre os grupos sociais que, embora fundada num equilíbrio instável, revelam diferenciais de coesão e integração grupal capazes de colocar uma ideia em circulação ou de torná-la inconveniente. Isso porque, conforme o autor, é na base das relações humanas que estão situadas as incessantes tentativas de grupos alcançarem ou conservarem uma posição elevada em meio a seus semelhantes. Nessas tentativas, o modo de atuação e o grau de exclusão nas chances de poder podem variar, mas é precisamente nas situações em que a desigualdade começa a mudar em favor de grupos sociais de menor poder que as tensões e conflitos entre os grupos se tornam mais acirradas (Elias, 1998ELIAS, Norbert. Envolvimento e Alienação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.; 2008bELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Lisboa: Edições 70, 2008b.).

Tal paradoxo está, de maneira interdependente, inscrito em outro. Conforme o autor, em regimes totalitários ou ditatoriais, fundados nos princípios da obediência e da disciplina e onde as oportunidades de socialização política são reprimidas e os conflitos administrados de cima, através das ordens, as demandas de autocontenção dos indivíduos e de seus grupos de pertencimento são diminuídas. Já em regimes democráticos, cujas autoridades centrais têm oportunidades de poder limitadas, são menos opressivos e também menos fortes, muito mais amplas são as demandas que as sociedades fazem sobre a força e a estabilidade da autocontenção de seus membros individuais e de seus variados grupos. Com isso, nos regimes democráticos, onde as exigências de autocontrole das pessoas e dos grupos sociais são muito maiores, maiores são as oportunidades de mudança social, como também as possibilidades de confrontos (Elias, 2008bELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Lisboa: Edições 70, 2008b.).

As maiores oportunidades de mudança e de conflitos nos regimes democráticos dizem respeito aos jogos de poder do tipo democrático crescentemente simplificado (Elias, 2008bELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Lisboa: Edições 70, 2008b.). Nesse tipo de jogo, embora haja interdependência entre os grupos que fazem parte da primeira camada (como organizações, associações, movimentos) e os grupos pertencentes ao nível secundário (representantes, delegados, líderes, governos, cortes, elites monopolistas etc.), são os membros dos grupos secundários aqueles que detêm o monopólio de acesso ao jogo, participam diretamente das disputas de poder e possuem as maiores reservas de oportunidade de poder. À medida que os grupos da primeira camada aumentam sua vigilância e o constrangimento em relação aos grupos da segunda camada, a força dos primeiros cresce, os diferenciais de poder diminuem e as desigualdades são reduzidas ao mesmo tempo em que as tensões e conflitos tendem a aumentar.

Assim sendo, como em qualquer outro espaço social, os indivíduos reunidos em associações, ao se engajarem no debate público, lutam pela preservação da distinção, do prestígio e do reconhecimento em relação aos demais. Considerando que as associações são espaços de promoção de ideias, de mobilização em favor de certas causas, de formação da opinião pública, de contestação e de pressão sobre os poderes instituídos, é preciso compreendê-las, portanto, como lugares de enunciação submetidos a mecanismos de contenção interna e coerção externa em níveis variáveis de interdependência e de integração. Em função disso, ideias, defesas e projetos postos em circulação carregam tensões e conflitos específicos capazes de validar, banir ou de fazer esquecer comportamentos e formas de conhecimento devido aos diferenciais na distribuição de poder entre os grupos sociais.

Nessa luta controlada entre os indivíduos, a capacidade de promover e perpetuar a coesão entre os membros de um grupo desempenha um papel fundamental. Para tanto, um conjunto de estratégias são acionadas pelo grupo estabelecido com a finalidade de reservar aos seus membros posições sociais com potencial de poder mais elevado e excluir dessas posições os membros dos outros grupos. Um grupo estabelecido constrói para a si uma imagem de nós carregada de valores dissipados como os maiores e melhores em relação aos valores do grupo outsider. Alimentam a crença na sua superioridade e cerram fileiras para preservar essa condição, lançando mão de aparato simbólico, material e legal ao seu alcance para inibir, envergonhar, censurar, humilhar e estigmatizar o grupo outsider. Pode ser instituído de maneira silenciosa, oculta no cotidiano das relações grupais, ou assumir formas declaradas de embate. O que importa para o grupo estabelecido é manter a imagem de nós desembaraçada e superiormente distinta em relação à reputação negativa dos outros (Elias; Scotson, 2000ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. Os Estabelecidos e os Outsiders – Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.).

Mas, ainda que a relação de forças seja favorável aos grupos estabelecidos, as expressões de protesto não são suprimidas em função da lógica instável na qual o equilíbrio de poder está fundado. Assim, na proposição eliasiana, onde houver interdependência funcional, o caráter relacional do poder em termos de equilíbrio sempre apontará para a força relativa das pessoas e grupos.

Considerando os aspectos destacados por Lüchmann (2014)LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Abordagens Teóricas sobre o Associativismo e seus Efeitos Democráticos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 29, n. 85, p. 159-178, ago. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69092014000200011. Acesso em: 5 jul. 2020.
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na condução de estudos interessados em capturar a complexidade do fenômeno associativo e as proposições eliasianas acerca da lógica estruturante dos jogos de poder, resulta o entendimento de que para compreender o engajamento de educadores envolvidos nas lutas pela reconstrução nacional por meio do associativismo, a noção de figuração funciona ao mesmo tempo como conceito e como categoria analítica. Metodologicamente, isso significa identificar e perseguir as forças reticulares, as pressões sociais que atuaram sobre o Club de Cultura Moderna; situar a associação em relação ao seu tempo e em interdependência com outros grupos e figuras sociais da época; observar suas margens de manobra, tendo em vista seu poder relativo devido às interdependências mútuas que unem as pessoas e seus grupos humanos uns aos outros. Noutros termos, significa observar a dinâmica de organização e funcionamento de uma figuração. Assim, a ideia de figuração integra o aparato conceitual e metodológico que sustenta a teoria dos processos civilizadores de Elias e se presta ao exame dos processos operantes na formação e desenvolvimento de ideias e comportamentos numa determinada época e sociedade.

Haja vista a utilização de impressos de época como fontes, e considerando que, para este trabalho, mobilizaram-se alguns jornais e as edições da Revista Movimento, órgão do Club de Cultura Moderna, à perspectiva de análise da experiência associativa como figuração somam-se as questões relativas ao uso de revistas e jornais como documentos para a escrita da história da educação.

Periódicos desse tipo não constituem repositórios da verdade por relatarem os fatos muito próximos do tempo em que aconteceram. Para além do seu significado aparente, sua produção é sempre uma expressão das relações de poder em curso num dado contexto. São resultados de escolhas, interesses, seleções e formas intencionais (ou não) de deixar registrados os conteúdos da realidade. Isso não significa, porém, que devam ser concebidas puramente como veículos ideológicos criados exclusivamente com a finalidade de obscurecer a realidade. Daí que, devido a sua parcialidade, o seu exame permite capturar a verossimilhança possível em relação à realidade (Campos, 2012CAMPOS, Raquel Discini de. No Rastro de Velhos Jornais: considerações sobre a utilização da imprensa não pedagógica como fonte para a escrita da história da educação. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas, v. 12, n. 28, p. 45-70, 2012.).

Em que pese as especificidades que caracterizam jornais e revistas, neste trabalho as fontes utilizadas foram assumidas como documentos na sua dimensão monumental. Não registram o testemunho isento de um passado. Ao contrário, atuam como agentes da histórica ao participarem nas disputas por consensos em torno da validação ou da recusa de ideias, propostas e projetos (Le Goff, 1990LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.; Luca, 2008LUCA, Tania Regina. Histórias dos, nos e por meio dos Periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Impressas. São Paulo: Contexto, 2008. P. 111-153.).

O caso específico da Revista Movimento e do seu cotejo com alguns jornais em circulação no Rio de Janeiro permitiram acompanhar as linhas que estruturam os debates postos em pauta na disputa por projetos de sociedade para a república brasileira. No interior dessa disputa, o debate político estampado nas suas páginas objetivava muito mais causar um efeito sobre o leitor do que propriamente informar ou explicar de modo lógico e racional alguma coisa.

Assim, para captar a dinâmica dos jogos de poder nos quais o Club de Cultura Moderna esteve envolvido, o manejo das fontes foi realizado com base em postulados da pesquisa documental.

‘Pela Cultura e pela Liberdade’: o Club de Cultura Moderna e o antifascismo

Segundo Libânea Nacif Xavier (2019)XAVIER, Libania Nacif. Contribuições ao Estudo do Associativismo Docente. Pro-Posições, Campinas, n. 30, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-6248-2018-0013. Acesso em: 19 jul. 2020.
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, contextos de abertura política ou momentos de tendência à repressão do Estado influenciam o aparecimento de ações coletivas no âmbito da sociedade civil quando estes são reconhecidos como oportunidades para ensaiar mudanças, experimentar alianças, conquistar direitos. No entanto, o reconhecimento dessas oportunidades é “[…] dependente da capacidade de os atores e suas lideranças identificarem os acontecimentos que indicam uma possível oportunidade” (Xavier, 2019XAVIER, Libania Nacif. Contribuições ao Estudo do Associativismo Docente. Pro-Posições, Campinas, n. 30, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-6248-2018-0013. Acesso em: 19 jul. 2020.
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, p. 11).

É possível considerar a emergência das lutas antifascismo dos anos de 1930 como exemplar do reconhecimento de uma possível oportunidade de mudança por parte de alguns segmentos da sociedade brasileira daquele período. Ocorre que, no plano internacional, ideologias entram em disputa na Europa, opondo fascismo ao liberalismo e ao comunismo. Conforme Eric Hobsbawm (1987)HOBSBAWM, Eric. Os Intelectuais e o Antifascismo. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 257-314., a ação de Hitler tornou visível o que o fascismo italiano, “uma expressão internacional de direita”, havia anunciado, visto que “[…] recusava toda a herança do iluminismo setecentista e, junto com ela, todos os regimes nascidos da Revolução Americana e da Francesa, não menos do que o nascido da Revolução Russa”. Tal recusa foi, segundo o autor, dramatizada imediatamente pela “[…] abolição do regime constitucional e democrático, pelos campos de concentração, pelas queimas de livros, pela expulsão ou emigração em massa dos dissidentes políticos e dos judeus, inclusive a nata da vida intelectual alemã” (Hobsbawm, 1987HOBSBAWM, Eric. Os Intelectuais e o Antifascismo. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 257-314., p. 265).

Nesses termos, a ameaça fascista, que significava a certeza da guerra, configurou-se em perigo para todos e, desse modo, colocou liberais e comunistas diante de um mesmo inimigo. Ainda que tal afinidade não implicasse em aproximação ideológica, tratava-se de edificar uma ampla aliança antifascista pela resistência. E, embora o movimento antifascismo tivesse assumido proporções mais amplas que o comunismo, eles estiveram muito próximos. Isso porque, segundo Hobsbawm, os comunistas foram precursores da ação voltada para construção de uma aliança antifascista e também desempenharam uma função de guia na luta concreta. Mesmo que em público “[…] insistia-se, sobretudo nos aspectos mais limitados – democráticos e defensivos – do antifascismo, […] a maior parte dos intelectuais, inclusive os elementos radicais, não proclamava a existência de incompatibilidade entre o antifascismo e a revolução” (Hobsbawm, 1987HOBSBAWM, Eric. Os Intelectuais e o Antifascismo. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 257-314., p. 266; 270).

Além disso, a crise do capitalismo, protagonizada pela depressão de 1929-33, gerou desemprego em massa, sofrimento e fome ao passo que a União Soviética parecia imune às consequências da catástrofe global. O liberalismo estava em xeque e a impermeabilidade russa pareceu uma alternativa. Dessa maneira, conforme afirma Hobsbawm, o contraste entre o colapso das economias capitalistas e a industrialização planificada socialista se tornou a mola propulsora que desencadeou o interesse de alguns intelectuais para o marxismo. Por sua vez, o triunfo de Hitler, consequência política da crise do capitalismo, entre outras causas, arregimentou um número ainda maior de intelectuais ao antifascismo, haja vista, inclusive, a expulsão e a emigração em massa desse segmento da sociedade dos países fascistas.

Assim como ocorrido com segmentos da intelectualidade, muitos estudiosos e pesquisadores, até mesmo das ciências naturais, mobilizados por objetivos antifascistas também se sentiram atraídos pelo marxismo. Como alternativa ao materialismo mecanicista, os cientistas antifascistas acolheram com entusiasmo o materialismo dialético. Avaliaram que os modelos mecânicos da ciência se tornaram incompatíveis com os progressos científicos. Argumentavam que o materialismo mecanicista isolava o objeto da experimentação do seu contexto, enfatizava a fragmentação dos campos do saber, tornava reducionista a compreensão dos fenômenos e apresentava-se pouco capaz de explicar as contradições e incoerências da ciência. “Era necessário integrar numa realidade viva fenômenos que o método científico convencional separava. […] Percebiam no marxismo uma abordagem ampla e integrada do universo e de tudo que ele contém”. Dessa forma, ao entrar nas discussões de alguns círculos de cientistas antifascistas, algumas contribuições do marxismo à ciência favoreceram a aproximação entre antifascismo e o comunismo (Hobsbawm, 1987HOBSBAWM, Eric. Os Intelectuais e o Antifascismo. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 257-314., p. 292-293).

Enquanto isso, a república brasileira chegava aos anos de 1930 dominada por contrastes e desigualdades. Os valores do campo prevaleciam sobre os valores industriais e urbanos em expansão. No setor político, o coronelismo prevalecia. Na economia, baseada, sobretudo, na lavoura cafeeira, o ruralismo protelava a superação de uma economia agroexportadora. O amplo processo imigratório ocorrido na Primeira República impulsionou a urbanização e a industrialização bem como favoreceu e deu visibilidade a uma organização da sociedade baseada num modelo dicotômico de estratificação social mais orientada por uma sociedade de classes (Nagle, 2009NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade na Primeira República. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.).

Ocorrida a Revolução de 1930, duas grandes forças políticas antagônicas, representadas por comunistas e por integralistas, emergiram e aglutinaram em torno de si representantes de diferentes segmentos da vida social, cultural e política na luta antiliberal. Na análise de Rodrigo Patto Sá Motta (2002)MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em Guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva; FAPESP, 2002., a emergência dessas forças se deu porque o clima estava propício para tornar o comunismo atraente para aqueles que desejavam encontrar caminhos alternativos ao modelo liberal, considerado falido. Além disso, o autor também afirma que a manifestação pública de adesão ao marxismo-leninismo e a causa do proletariado, feita por Luiz Carlos Prestes, influenciaram grupos que o tinham como grande líder popular.

Ao crescimento do comunismo correspondeu a expansão e o fortalecimento da Ação Integralista Brasileira (AIB); movimento nacional de orientação fascista, fundado em 1932, por Plinio Salgado2 2 Sob o lema “Deus, Pátria e Família, o integralismo se propôs a combater o liberalismo, o socialismo, o capitalismo internacional e as sociedades secretas vinculadas ao judaísmo e à maçonaria” (Trindade, 2001, p. 2.811). . Não tardaria para a Aliança Nacional Libertadora (ANL)3 3 Organização política de âmbito nacional de estreitas relações com o comunismo, fundada em 1935. Sua plataforma incluía o combate ao “fascismo, ao imperialismo, ao latifúndio e à miséria”. Sobre a relação entre a ANL e o comunismo, Motta (2002, p. 181) explica que, “[…] embora haja controvérsias sobre o papel desempenhado pelos comunistas na fundação da ANL, pouco se questiona o papel dirigente assumido pelo Partido Comunista na condução das atividades da frente aliancista. Além de exercer forte influência sobre as posições ideológicas da entidade, em pouco tempo o Partido passou a ditar sua orientação política. O predomínio dos comunistas é explicável em grande parte pelo prestígio de Luiz Carlos Prestes, aclamado como Presidente de Honra da ANL”. surgir na cena. Assim, enquanto a crise dos valores liberais serviu para angariar um número crescente de adeptos ao comunismo, também fermentou a adesão ou o apoio de diferentes grupos sociais ao integralismo.

No quadro de efervescência ideológica e de inquietação social do período, várias associações de educadores e intelectuais já estavam em funcionamento ou foram fundadas nos anos de 1930 com a finalidade de instituir espaços de militância capazes de influir nos rumos da vida política e cultural do país. Dessa forma, as possibilidades de remodelação da ordem político-social foram amplamente debatidas no Club de Cultura Moderna; agremiação que congregou membros de variadas tendências antifascistas, fundada em 1934 com os objetivos de “[…] levar conhecimento às massas, ávida de instrução e elevar o nível cultural da população”. Como consta no Jornal Correio da Manhã4 4 Nos anos de 1930, o Jornal Correio da Manhã basicamente “ignorou o movimento integralista”. Entre janeiro e abril de 1935, dedicou especial atenção à tramitação do anteprojeto da Lei de Segurança Nacional protestando contra o que denominou de “Lei da Opressão”. Antes disso, nos idos de 1920, “[…] foi um dos poucos jornais a demonstrar simpatia pelas propostas tenentistas e pelos rebeldes das revoluções de 1922 e 1924” (Leal, 2001a, p. 1.627). ,

Foi fundado nesta capital, por um grupo de intellectuaes, o Club de Cultura Moderna, cujo conselho deliberativo, eleito na primeira reunião, é o seguinte: Júlio Porto Carreiro, Edgar Roquette Pinto, Phebus Gicovate, Oscar Tenório, Miguel Costa Filho, Hannemann Guimarães, Affonso Várzea, Ignácio Azevedo Amaral, Mario Magalhães, Roberto Lyra, Aloísio Costallat, José Carneiro Ayrosa, Luiz Frederico Carpenter, Annibal Machado, Maria Werneck, Santa Rosa, Josias Reis, José de Queiroz Lima, Martins Castello, Mecenas Dourado, Flavio Poppe, José Foure, Valério Konder, Jorge Amado, Nazareth Prado, Judith Gouvêa, Medeiros Lima, Modestino Kanto. Os suplentes: Zenaide Andrea, Leandro Ratisbone, Paschoal Lemme, Barreto Leite Filho, Benjamin Soares Cabello, Edmundo Moniz, Oswaldo Ribeiro, Nise Silveira, Jayme Grabois, Evandro Lima e Silva

(Foi…, 1934FOI fundado o “Club de Cultura Moderna”. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, Anno XXXIV, n. 12.274, 28 nov. 1934. P. 7. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/089842_04/25126. Acesso em: 17 jun. 2014.
http://memoria.bn.br/DocReader/089842_04...
, p. 07).

A despeito da sua variada composição, Ângela Meirelles de Oliveira (2013)OLIVEIRA, Ângela Meirelles. Intelectuais Antifascistas no Cone Sul: experiências associativas no cruzamento entre a cultura e a política (1933-1939). Projeto História, São Paulo, n. 47, p. 53-83, ago. 2013. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/17134/14201. Acesso em: 23 mar. 2015.
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afirma que organizações, como o próprio Club de Cultura Moderna, foram criadas sob a inspiração dos movimentos franceses de combate ao fascismo – Movimento Amsterdam-Pleyel, de 1932; o Comitê de Vigilância de Intelectuais Antifascistas (CVIA), de 1934, e os Congressos de Escritores pela Defesa da Cultura, de 1935. Segundo a autora, ainda que esses movimentos estivessem, em alguma medida, sob a coordenação da Internacional Comunista, a defesa da cultura funcionou como um elemento capaz de aglutinar pessoas de diversas filiações pois “[…] apresentava um caráter de contrapropaganda frente ao autoritarismo e o fascismo e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de transformação do universo artístico e cultural do país” (Oliveira, 2013OLIVEIRA, Ângela Meirelles. Intelectuais Antifascistas no Cone Sul: experiências associativas no cruzamento entre a cultura e a política (1933-1939). Projeto História, São Paulo, n. 47, p. 53-83, ago. 2013. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/17134/14201. Acesso em: 23 mar. 2015.
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, p. 75).

Seis meses após a fundação do clube, tem início a circulação da Revista Movimento. Sob a direção de Miguel Costa Filho (1911-1985)5 5 Bacharel em Ciências e Letras, diplomado pelo curso de Formação Profissional de Professor Primário do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, Miguel Costa Filho foi também redator de O Tempo, A Tarde, São Paulo Imparcial e Diário da Noite. Ao que tudo indica, era filho de Miguel Costa, importante figura do movimento tenentista e da coluna Prestes, responsável pela direção da ANL em São Paulo, juntamente com Caio Prado Júnior. , a revista contou com apenas 4 edições (maio, junho, setembro e outubro de 1935). Sua curta duração coincide com a forte repressão que se abateu contra os opositores do governo após a Revolta Comunista de 1935. Com a instalação do Estado Novo, em 1937, quando muitos de seus integrantes haviam sido presos, o próprio clube foi extinto.

Com projeto gráfico simples e ilustrações em preto e branco distribuídas ao longo de 24 páginas por edição, teve a Alba Oficinas Gráficas como responsável pela composição e impressão da Movimento. Embora sem informações sobre tiragem, podia ser adquirida por meio de assinatura anual ou de forma avulsa, e contava com pouquíssimos anúncios comerciais.

Por meio de matérias sobre cinema, teatro, literatura, poemas, contos, resenhas de livros, transcrição de conferências, informes sobre a ANL, propaganda de obras que versavam sobre fascismo, capitalismo e socialismo, divulgação de festivais e exposições, bem como das atividades do Club de Cultura Moderna, é que se dava o combate daquela associação à ameaça de aniquilamento da liberdade e do patrimônio cultural nacional protagonizada pela ascensão do fascismo e do nazismo, na Europa, e do movimento integralista, no Brasil. Expressão síntese das motivações que embalavam a ação do Club de Cultura Moderna foi o lançamento do manifesto em favor da cultura e pela liberdade veiculado pelo Jornal A Manhã, um dos principais órgãos de divulgação do programa e das atividades da ANL, como reação ao seu fechamento decretado no dia anterior6 6 O fechamento da ANL decorreu da sua radicalização especialmente declarada no manifesto lido por Prestes em 05 de julho de 1935, por ocasião do 13º aniversário da primeira revolta tenentista. Como consequência, “enquanto vários participantes se desligaram do movimento, o governo utilizou a Lei de Segurança Nacional para fechar por decreto a organização, em 11 de julho de 1935” (Abreu, 2001, p. 109). . Dizia o manifesto:

O desenvolvimento cultural de nosso paiz sempre encontrou entraves insuperáveis por parte do imperialismo e do latifúndio, interessados em manter a nossa população num nível baixo de cultura. Com o fim de submettel-a, mais facilmente, à torpe essas duas forças reacionárias sempre se oppuzeram à liberdade da cultura e a sua difusão na massa popular. Os intellectuaes do paiz, scientistas, escriptores, jornalistas e artistas, que não se queriam transformar em instrumentos de opressão, quando queriam entoar hymnos ou justificar scientificamente a exploração de que a população era victima, viam-se lançados à margem pelos que monopolizaram a imprensa, as editoras, os theatros e as instituições scientificas. No momento actual surgem grandes ameaças nos horizontes do nosso paiz. Prepara-se no nosso paiz, à maneira dos brutaes e sanguinarios regimes de Hitler e Mussolini, que estirparam e destruiram todas as liberdades e a propria cultura, queimando obras de valor inestimavel, encarcerando, matando e expulsando os scientistas, escriptores e artistas independentes, uma onda de terror e fascismo, que pretende liquidar, anniquilar completamente nossas rudimentares conquistas no terreno da cultura livre e popular. Também aqui preparam-se fogueira para queimar as nossas melhores obras, que descrevem o sofrimento das massas populares e são um protesto vivo contra a oppressão do nosso povo. Também aqui paira uma ameaça terrivel sobre os intellectuaes sinceros que fazem causa comum com o povo. O Club de Cultura Moderna, que declarou, na memoravel reunião do dia 04, achar-se disposto pela cultura e pela liberdade e por isso mesmo adheria à Aliança Nacional Libertadora, organização que nesse momento, encarna as aspirações de todas as camadas da nossa população, vem lançar o grito de alerta a todos os intellectuaes do Brasil. SCIENTISTAS, ESCRIPTORES, ARTISTAS E JORNALISTAS! NÃO PERMITI QUE A AMEAÇA SOMBRIA EM REALIDADE! NÃO DEIXE ANNIQUILLAR A NOSSA LIBERDADE E O NOSSO PATRIMONIO CULTURAL! CERRAE FILEIRAS, AO LADO DE TODA A POPULAÇÃO, CONTRA A OPPRESSÃO E CONTRA O TERROR QUE NOS AMEAÇA! A Comissão Executiva

(Pela…, 1935PELA cultura e pela liberdade. A Manhã, Rio de Janeiro, Anno I, n. 67, 12 jul. 1935. P. 02. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/116408/10801. Acesso em: 13 jun. 2014.
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, p. 2).

Além do manifesto acima destacado, as atividades do Club de Cultura Moderna eram bastante diversificadas. Os cursos promovidos pela associação eram compostos por temas relacionados à economia política, geografia econômica, literatura nacional, educação scientifica e história das lutas sociais no Brasil. Encabeçados pelo estudo das questões de economia política “que representam as bases científicas da revolução social”, estes cursos deveriam compor a estrutura para a fundação posterior, pelo próprio Club, de uma universidade popular. Uma comissão, composta por Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Álvaro Alberto, Joaquim Ribeiro, Valério Konder e Judith Gouvea, chegou a ser constituída com a finalidade de elaborar os seus planos de ensino e estatuto (Movimento, 1935MOVIMENTO. Revista do Club de Cultura Moderna. Rio de Janeiro, Ano I, n. 3, 1935. (Arquivo Edgard Leuenroth, Centro de Pesquisa e Documentação Social (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP))., p. 23).

As exposições de arte social e os festivais artísticos promovidos pelo Club tinham como eixo norteador a apresentação de obras que retratassem o trabalho humano, urbano e rural, seus sofrimentos, misérias, lutas e aspirações. A arte, por esse eixo, deveria revelar a realidade social e, como tal, configurar-se em dado científico de investigação tal qual a estatística e os inquéritos. Por defenderem a ideia de que o acesso à cultura atuaria em prol das transformações sociais requeridas pelo socialismo, consideravam que seria necessário estendê-la às massas trabalhadoras. Nesse sentido, o espírito social da arte consistiria em “[…] estabelecer premissas para a revolução”; isto é, “[…] em descobrir atrás do conhecimento da realidade contraditória as vias de desenvolvimento da transformação revolucionária” (Movimento, 1935MOVIMENTO. Revista do Club de Cultura Moderna. Rio de Janeiro, Ano I, n. 3, 1935. (Arquivo Edgard Leuenroth, Centro de Pesquisa e Documentação Social (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP))., p. 24).

Essa arte engajada também ilustrava as páginas da Movimento. Comprometidos em denunciar a sociedade de classes, poemas, desenhos, contos, resenhas e charges se misturam às matérias do periódico. Nesse mesmo espírito, das quatro edições da Movimento, duas delas (setembro e outubro) estamparam em suas capas obras assinadas por Di Cavalcanti, artista filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCB) e também envolvido com a ampliação do movimento artístico de esquerda no país. No caso da primeira edição da Movimento, a capa é ilustrada por obra de Santa Rosa, artista plástico que, nos anos de 1930, trabalhou como auxiliar de Cândido Portinari, pintor brasileiro, comunista e cuja obra apresenta traços de identidade com o ideário socialista. Em relação à segunda edição, devido às condições de preservação da fonte, não foi possível identificar a assinatura da ilustração. De todo modo, assim como nas demais edições, o primeiro plano é ocupado pela figura do trabalhador braçal, do campo e da cidade. Da mesma maneira, no interior das edições da revista, a temática do trabalho humano é predominante no repertório dos desenhos e ilustrações.

Frequentemente tornada matéria na Movimento, a arte social tinha também como objetivo contrapor-se ao espírito místico e à fé religiosa. Esse espírito, tido como distante da realidade, acentuaria o pensamento individualista em detrimento da formação do pensamento coletivo. Aliás, o tom combativo do clube em relação à religião permeia as páginas da Movimento desde seu lançamento. No âmbito da educação, lançou mão da experiência da União Soviética para balizar o debate sobre o ensino religioso. Esse tido ainda como um problema de higiene mental, um obstáculo ao coletivismo e ao desenvolvimento do ponto de vista realista da vida. Em função disso, “[…] um aspecto cardeal a ser combatido” (Movimento, 1935MOVIMENTO. Revista do Club de Cultura Moderna. Rio de Janeiro, Ano I, n. 3, 1935. (Arquivo Edgard Leuenroth, Centro de Pesquisa e Documentação Social (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP))., p. 07).

Além da propaganda de combate ao ensino religioso, no que se refere à escolarização, o Club de Cultura Moderna empenhou-se em divulgar de modo específico o desenvolvimento da União Soviética. A instrução do trabalhador estaria imbricada ao desenvolvimento da consciência de classe como base para a construção do socialismo. Não recebeu a mesma atenção que a arte social, mas, em todas as edições da Revista Movimento, há referências ou matérias sobre as ações daquele país no campo da educação. Tais ações incluíam em seus propósitos a extinção do analfabetismo; a ampliação da rede de bibliotecas públicas, de rádio difusoras, clubes, casas de cultura, salas de leitura, jardins de infância, creches; o aumento das matrículas e dos quadros pedagógicos; a universalização da instrução politécnica; a adequação dos materiais e instalações; distribuição de bolsas de estudo; entre outros.

Das conferências promovidas pelo clube, consta, nas páginas da Movimento, uma proferida por Henri Wallon. Psicólogo francês bastante conhecido no meio educacional brasileiro, Wallon foi uma personalidade científica com destacada atividade política. De acordo com Mauro Ceruti (1987)CERUTI, Mauro. O Materialismo Dialético e a Ciência nos Anos 30. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 315-386., além de referenciar-se nos pressupostos do materialismo dialético no desenvolvimento das suas pesquisas, Wallon participou do CVIA, foi líder da Frente Nacional Universitária na luta antinazista e membro do Partido Comunista Francês7 7 Na década de 1950, Wallon também presidiu a Federação Internacional Sindical de Ensino (FISE). De acordo com Memórias de um Educador, Paschoal Lemme (2004) foi convidado em 1953, pelo PCB, para integrar a delegação de educadores brasileiros na I Conferência Mundial de Educadores; evento organizado pela FISE e ocorrido em Viena. Na oportunidade, consta que visitou a União Soviética a fim de conhecer a organização do ensino naquele país e da qual resultou o seu livro A Educação na URSS, publicado em 1955 pela Editorial Vitória Ltda. Envolvido com questões relativas à sindicalização dos professores, Lemme disse que estreitou as suas relações com a FISE. Conta, ainda, que em 1956 publicou o trabalho Evolución histórica de la educación brasileña no primeiro número de Educadores do Mundo, órgão oficial da FISE. . Conforme registro da Revista Movimento, na conferência Psicologia e organização do trabalho, Wallon criticou a aplicação dos princípios tayloristas nos países capitalistas e as consequências da racionalização técnica para o proletariado (Movimento, 1935MOVIMENTO. Revista do Club de Cultura Moderna. Rio de Janeiro, Ano I, n. 3, 1935. (Arquivo Edgard Leuenroth, Centro de Pesquisa e Documentação Social (AEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP))., p. 23-24).

O Club de Cultura Moderna também apoiou a realização de outros eventos como, por exemplo, o I Congresso da Juventude Estudantil, Proletária e Popular do Brasil. Como expressão do clima de tensão e embate do período, o apoio ao congresso rendeu represálias àquela associação. A polícia chegou a impedir que Edgar Sussekind de Mendonça se encontrasse com os estudantes na sede do Partido Socialista do Brasil para uma atividade preparatória do congresso. Naquela ocasião, Sussekind de Mendonça foi revistado e interrogado pela polícia. Os estudantes e operários que participariam da reunião foram espancados e se refugiaram na sede da ANL8 8 Segundo Diana Vidal (2002), o espancamento dos estudantes e a suspensão do evento levaram Sussekind de Mendonça e Armanda Álvaro Alberto a assinarem, “[…] em 16 de agosto, um manifesto em defesa do direito de reunião dos jovens para tratar de assuntos de juventude e da democracia” (Vidal, 2002, p. 289) . Em nota que se seguia à notícia do ocorrido, o Club de Cultura Moderna registrou o seu protesto acusando de “[…] arbitrário o ato de violência diante daquela iniciativa de elevar o nível material e cultural dos jovens” (A Polícia…, 1935A POLÍCIA espancou os estudantes! A Manhã, Rio de Janeiro, Anno I, n. 52, 25 jun. 1935. P. 03. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/116408/10754. Acesso em: 13 jun. 2014.
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, p. 3).

Pelos termos assinalados, o Club de Cultura Moderna foi uma organização coletiva de natureza política, de caráter emancipatório, em defesa da cultura e da liberdade. No âmbito das suas atividades, na mesma medida com que combatia os males da religião e do integralismo, apresentava o projeto socialista de sociedade como o caminho para o triunfo da razão, da ciência e do progresso da república brasileira. Em suma, Movimento cumpriu a função de divulgar as ações do Club de Cultura Moderna na tarefa de promover o programa da ANL. Embora fechado após o governo ter acionado a Lei de Segurança Nacional contra a ANL, a sua curta existência é também exemplar de como um grupo outsider pode se lançar contra grupos estabelecidos, tensionando a balança de distribuição de poder.

Paschoal Lemme, Armanda Álvaro Alberto e Edgar Sussekind de Mendonça: afinidades eletivas, militância educacional e engajamento político

A criação do Club de Cultura Moderna coincide também com o período em que uma parte representativa de educadores e intelectuais estava envolvida na discussão política relativa à necessidade de tornar efetivamente pública a educação e ao estabelecimento da escola nos preceitos escolanovistas9 9 Ideário firmado na constituição de um sistema de educação com bases nacionais. Na defesa da escola pública, democrática e de qualidade e de um ensino laico, afirma o papel do Estado na condução do processo de construção da nação, em contraposição aos interesses da Igreja, que disputa pelo controle da educação; tal qual expresso no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932 (Xavier, 2004). . A partir de 1934, esse debate radicalizou extremamente as divergências entre as duas principais posições ideológicas em confronto no terreno educacional, em função da inclusão do ensino religioso no texto da Constituição Federal, de frequência facultativa, nas escolas públicas. De um lado, a dos partidários da escola pública, única, obrigatória, gratuita e laica, e de outro, a corrente dirigida pela Igreja Católica.

No interior dessa associação, figuravam educadores como Paschoal Lemme (1904-1997), Armanda Álvaro Alberto (1892-1974), Edgar Sussekind de Mendonça (1896-1958). Além de militantes na Associação Brasileira de Educação (ABE) atuando, inclusive como signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e como colaboradores nas reformas educacionais do Distrito Federal, nas gestões de Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, outras solidariedades também concorreram para estruturar suas sensibilidades, defesas e engajamento na luta antifascista.

No decorrer do processo social, o apreço aos valores igualitários, à democracia, à liberdade de pensamento e aos princípios da moderna pedagogia foram se constituindo em enunciados que compuseram o ideário republicano de Paschoal Lemme. Cresceu em ambiente familiar de orientação espírita; o que significava, naquela época, ter sido educado sob a ordem da razão e da ciência em detrimento do preceito religioso. Na vida profissional, foi defensor da escola pública, democrática e laica. Identificado com as ideias marxistas, passou a reconhecer a existência de uma íntima relação entre as desigualdades sociais e as desigualdades educacionais. Ao se aproximar da militância comunista, assumiu definitivamente a convicção de que qualquer aspiração emancipatória não poderia dissociar a educação da ordem social mais ampla (Lemme, 2004LEMME, Paschoal. Memórias de um Educador – Paschoal Lemme. Brasília: INEP, 2004.).

Armanda Álvaro Alberto, casada com Edgar Sussekind de Mendonça, era, assim como o marido, simpática ao Partido Comunista. De acordo com Ana Chrystina Venancio Mignot (2010), “[…] sua postura marxista e de Edgar era pública”. Além de fundar a Escola Proletária do Meriti, em 1921, a educadora participou da criação da ABE, em 1924. Nos anos de 1930, fundou e presidiu a União Feminina do Brasil, atuando na luta pelos direitos femininos. Intensificou sua ação política a partir de 1934, lutou contra o integralismo, fazendo parte da Frente Única Antifascista e filiando-se à ANL. “Em 1961, recebeu na ABE, homenagem de Paschoal Lemme consagrando-a como a ‘Montessori brasileira’ por ocasião do aniversário de 40 anos da sua escola” (Mignot, 2010MIGNOT, Ana Crystina Venancio. Armanda Álvaro Alberto. Recife: Editora Massangana; Fundação Joaquim Nabuco, 2010., p. 161).

Ao lado de Armanda Álvaro Alberto, Sussekind de Mendonça foi importante colaborador na fundação da Escola Proletária de Meriti. Sua oposição ao ensino religioso nas escolas lhe rendeu muitas críticas, inclusive com agressão física, como a que ocorreu em 1934, por ocasião da VI Conferência Nacional de Educação, realizada no Ceará. Além de ter dirigido o Club de Cultura Moderna, entre outras inúmeras atividades realizadas no campo da educação, Sussekind de Mendonça colaborou com Paschoal Lemme na realização de cursos noturnos para operários filiados à União Trabalhista (Vidal, 2002VIDAL, Diana Gonçalves. Edgar Sussekind de Mendonça. In: FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque; BRITTO, Jader de Medeiros (Org.). Dicionário de Educadores no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MEC; Inep; Comped, 2002. P. 285-290.).

As relações de amizade e de apoio entre Paschoal Lemme, Edgar Sussekind de Mendonça e Armanda Álvaro Alberto, desenvolvidas ao longo do movimento de renovação pedagógica, foram seladas no contexto da luta antifascista. Compartilharam ideias e posições no âmbito da militância política em sintonia com a esquerda. Também guardavam afinidade no que se refere à identidade social dos intelectuais antifascistas. Vindos da burguesia, eles representavam a pequena parcela dos brasileiros que teve acesso à educação numa época em que o analfabetismo atingia grande parte da população. Segundo Hobsbawm (1987)HOBSBAWM, Eric. Os Intelectuais e o Antifascismo. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 257-314., eram, em geral, oriundos de grupos sociais cuja educação superior para os filhos era tida como pressuposto. No caso das mulheres intelectuais, estas “[…] eram de esquerda quase por definição, já que a direita era hostil à emancipação das mulheres e porque, em geral, as famílias dispostas a dar às filhas uma educação intelectual pertenciam à ala liberal ou ‘progressista’ da burguesia”. Diz ainda que, em grupos sociais como os judeus, ascendência de Sussekind de Mendonça, “[…] entre os quais existia uma forte tradição de amor pelos estudos e uma experiência direta da discriminação”, o número de intelectuais de esquerda era superior à média dos intelectuais de esquerda de outras origens (Hobsbawm, 1987HOBSBAWM, Eric. Os Intelectuais e o Antifascismo. In: HOBSBAWM, Eric (Org.). História do Marxismo: o marxismo na época da terceira internacional – problemas da cultura e da ideologia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. P. 257-314., p. 275).

Juntos, esses três educadores e intelectuais antifascistas também estiveram empenhados em defender os preceitos da moderna pedagogia e a instrução das massas. Além do que as relações de Paschoal Lemme e Armanda Álvaro com o espiritismo e a ascendência judaica de Sussekind de Mendonça podem ter contribuído para estreitar os laços de solidariedade entre eles. Nesse sentido, compartilharam de um inimigo comum: o clero. De um lado, porque, segundo Clarice Nunes (2001)NUNES, Clarice. As Políticas Públicas de Educação de Gustavo Capanema no Governo Vargas. In: BOMENY, Helena (Org.). Constelação Capanema: intelectuais e políticas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001. P. 103-125., o movimento de renovação pedagógica tornou a questão do ensino religioso uma das mais sérias divergências evidenciadas pela implantação dos ideais da Escola Nova no Distrito Federal. De outro, porque judeus e espíritas, simpáticos dos preceitos científicos e contrários à religião de Estado e à superstição, também defendiam o ensino público e laico.

Por certo, o fato de os três terem sido presos pelo Tribunal de Segurança Nacional, no contexto dos desdobramentos da Revolta Comunista, não fora obra do acaso. Paschoal Lemme, Edgar Sussekind de Mendonça e Armanda Álvaro Alberto atuaram junto à esquerda marxista num tempo em que o comunismo estava sendo fortemente combatido pelo governo, por integralistas e pelos católicos. Tido como ameaça à ordem, aos fundamentos básicos do catolicismo, à tradição e ao Estado nacional, o comunismo teve sua imagem amplamente associada à ideia de traição, doença, barbárie, caos. Um exemplo da propaganda anticomunista era a associação dos judeus ao comunismo. Sobre essa associação, Everardo Backeuser (1879-1951), importante liderança católica do período e atuante nas lutas pelo controle do campo educacional pela Igreja, assim se pronunciou no Jornal Diário Carioca10 10 Entre 1934 a 1945, o Diário Carioca esteve próximo da situação, “[…] passando a informar sobre as questões nacionais de maior repercussão de maneira bastante parcial”. Mostrou-se favorável à Lei de Segurança Nacional, tido como instrumento de defesa do regime e de segurança do povo brasileiro “[…] diante de quaisquer iniciativas de reação ao fascismo, como de repulsa ao comunismo”. Dentro dessa linha, o jornal fez “[…] cerrada oposição à Revolta Comunista de 1935” (Leal, 2001b, p. 1.841). :

Ora, o communismo, pelas suas próprias declarações e pela sua prática na Russia, é um partido que não está em pé de igualdade com nenhum outro. Inscrevendo em seu programma o principio de que, vencedor, esmagará, impedindo-as, todas as outras opiniões, elle próprio se transfere para fóra do campo do liberalismo, elle próprio se proclama fóra da lei. Como fóra da lei, deve, pois, ser tratado. Assim o faz Hitler. E fez muito bem. […] Hitler, em Berlim, é a muralha da Civilização tradicional contra a utopia sangrenta de Lenine. Hitler está se sacrificando em holocausto de Bem Estar do Universo. […] O incidente judaico já está explicado. Os judeus têm sido os principaes agentes do communismo. Lenine e Rosa Luxemburgo eram judeus. O governo soviético é de judeus, como judeus foram os elementos esquerdistas que governaram, nos primeiros annos, a Republica Allemã

(Backeuser, 1933BACKEUSER, Everardo. Hitler, barreira ao comunismo. Diário Carioca, Rio de Janeiro, Anno IV, n. 1.447, 26 abr. 1933. P. 5. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/093092_02/10420. Acesso em: 17 jun. 2014.
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).

Nessa campanha anticomunista, participavam diferentes grupos sociais que se mesclavam sob os argumentos em defesa do catolicismo, do nacionalismo e do liberalismo, para os quais “[…] o célebre lema integralista ‘Deus, Pátria e Família’ constitui-se numa referência interessante, pois representava a junção de diferentes ênfases anticomunistas”. Mas, como bem destacado por Motta (2002)MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em Guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva; FAPESP, 2002., a representação “deformada e grotesca” utilizada pelos anticomunistas para fazer desacreditar seus inimigos não decorreu apenas de cálculo político e manipulação consciente. “Dominados pelo medo e/ou pelo ódio, além das influências religiosas e ideológicas inscritas nas suas convicções, os anticomunistas pareciam acreditar nas imagens terrificantes que divulgavam sobre o perigo vermelho”. Por outro lado, “[…] ao menos em parte, as representações anticomunistas inspiravam-se em fragmentos do real, notadamente no que se refere aos acontecimentos da União Soviética” (Motta, 2002MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em Guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva; FAPESP, 2002., p. 45; 88).

Em 1935, com a posse de Francisco Campos na Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal em substituição a Anísio Teixeira, Nunes (2001)NUNES, Clarice. As Políticas Públicas de Educação de Gustavo Capanema no Governo Vargas. In: BOMENY, Helena (Org.). Constelação Capanema: intelectuais e políticas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001. P. 103-125. afirma que o governo municipal foi dominado pelos católicos. De acordo com a autora, Alceu Amoroso Lima, cônego Olímpio de Mello, padre Hélder Câmara foram alguns dos representantes da Igreja Católica que passaram a figurar na cena educacional, assumindo cargos diretivos.

Já em 1937, a imprensa, aqui exemplificada pelo Jornal do Brasil11 11 O Jornal do Brasil foi caracterizado como boletim de anúncios entre os anos de 1930 e 1950. No entanto, não se omitiu totalmente diante dos principais acontecimentos políticos do período. “Dentro de uma perspectiva conservadora e católica, criticou os movimentos de esquerda, como a Aliança Nacional Libertadora, e repudiou a Revolta Comunista de 1935”. Mas, numa posição antiextremista, também não acolheu com aprovação o movimento integralista (Ferreira; Montalvão, 2001, p. 2.869). , noticiou a ação de Francisco Campos, então Ministro da Justiça, objetivando impedir a infiltração do comunismo nas escolas. Por essa ação, os acervos das bibliotecas escolares deveriam ser inventariados a fim de “[…] expurgar todas as obras que tenham por finalidade directa ou indirecta a propaganda de idéias comunistas ou contrárias à formação de uma mentalidade nacional forte”. Além disso, o “[…] dia letivo deveria ter inicio com preleções curtas, porém incisivas, contra as idéias comunistas” (Recrudesce…, 1937RECRUDESCE, com aplausos de todas as classes sociais, o combate ao comunismo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro Anno XLVII, n. 251, 26 out. 1937. P. 8. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/030015_05/79711. Acesso em: 17 jul. 2014.
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, p. 08).

Desse modo, a aliança de Francisco Campos com a Igreja, tecida desde o início dos anos trinta, se consolidou em nível nacional. De acordo com Maria Célia Marcondes de Moraes (1992)MORAES, Maria Célia Marcondes de. Educação e Política nos Anos 30: a presença de Francisco Campos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 73, n. 17-4, p. 291-321, maio/ago. 1992. Disponível em: http://rbep.inep.gov.br/ojs3/index.php/rbep/article/view/1093/832. Acesso em: 7 maio 2015.
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, o empenho de Francisco Campos pelo ensino religioso nas escolas públicas teria ainda outros desdobramentos. Ele contribuiria para alcançar os objetivos instrumentais de adesão ao Estado Novo. Além disso, Francisco Campos considerava a importância dos valores religiosos como parte integrante e essencial da educação porque comungava com o grupo católico do repúdio aos princípios liberais e ao comunismo.

Anos mais tarde, em 1945, com o fim do Estado Novo, o clima propiciado pela abertura política permitiu que Paschoal Lemme expressasse, por meio da imprensa vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PCB), suas convicções sobre a importância das associações e o papel dos professores nessa obra.

E um educador apolítico seria, nessa hora, além de um anacronismo, um verdadeiro crime contra o povo. Assumam, pois, os professores sua verdadeira função de líderes da comunidade em que atuam pondo-se à frente do povo, orientando-o nas suas campanhas, nas suas reivindicações mais sentidas, congregando os pais em associações, clubes, comitês, esclarecendo-os, educando-os para participarem ativamente na vida política local, na escolha dos verdadeiros representantes às assembleias legislativas e aos cargos executivos. Assim fazendo, concorrendo para o progresso geral do País, estão lutando por mais e melhor educação que constitui sua tarefa técnica imediata

(Lemme, 1946LEMME, Paschoal. Congresso de Educação de Adultos. Tribuna Popular, Rio de Janeiro, Anno II, n. 545, 2 mar. 1946. P. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/093092_02/10420. Acesso em: 15 jan. 2014
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, p. 3).

Nesses termos, o engajamento de educadores nas lutas pela reconstrução nacional por meio de experiências associativas, como o Club de Cultura Moderna, permitiu observar as fluidas fronteiras entre religião, política e educação. Da mesma maneira, observar algumas das afinidades que aturam na produção de solidariedades que concorreram na promoção do envolvimento de Lemme, Armanda e Sussekind de Mendonça na defesa de certas causas.

Considerações finais

No exercício da democracia republicana, as associações mobilizam frentes sociais para a confrontação com formas organizadas de poder, ativam a circulação de ideias e funcionam como lugares de sociabilidades. Dessa perspectiva, foi possível analisar o engajamento de educadores nas lutas pela reconstrução nacional apreendendo as condições culturais, políticas e sociais do período e suas correlações com as motivações mobilizadas em torno da fundação do Club de Cultura Moderna em interdependência com as sensibilidades e solidariedades operantes na constituição das suas formas de intervenção no debate público em favor de certas causas. Também foi possível captar alguns elementos do aparato ideológico e simbólico utilizado para promover e perpetuar a coesão entre os indivíduos aglutinados naquela agremiação. Da mesma maneira permitiu alcançar algumas das estratégias e recursos utilizados pelo governo, por lideranças católicas e por integralistas para preservar suas posições sociais e potenciais de poder mais elevado em relação aos comunistas.

Nesse tenso processo de validação de ideias, a balança de distribuição de poder pendeu para o lado que considerou inconveniente a atuação do Club de Cultura Moderna e avaliou como dissonante o projeto socialista de sociedade para a república brasileira defendido pelos educadores e intelectuais reunidos naquela associação. Ao mesmo tempo, a sua dinâmica de funcionamento parece corroborar a ideia de que numa democracia a força de grupos coesos menos poderosos reside na possibilidade de diminuírem as desigualdades por meio da vigilância incessante e do aumento dos constrangimentos endereçados aos grupos de maior poder.

Tal dinâmica é assim reveladora da força relativa de grupos em interdependência. Sob o enquadramento da lei, o Club de Cultura Moderna agitou e promoveu ideias, mobilizou frentes sociais e aglutinou educadores e intelectuais, fez uso dos meios de comunicação para difamar e contestar. Enquanto atuou como vetor de formas de pensamento, a eficácia das suas ações era, ao mesmo tempo, dependente da sua própria capacidade de fazer prevalecer, em termos de equilíbrio de poder, os valores cultivados no interior da organização e destes sobre os valores difundidos no âmbito das demais figurações envolvidas naquela competição.

  • 1
    Tida como espaço de fermentação e circulação de ideias e de relações afetivas, o entendimento é de que, em alguns aspectos, a ideia de figuração guarda correlação com a noção de sociabilidades, ao modo proposto por Jean-François Sirinelli (2003)SIRINELLI, Jean-François. Os Intelectuais. In: RÉMOND, René (Org.). Por uma História Política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. P. 231-262.. Na perspectiva do autor, certas formas de engajamento dos intelectuais constituem estruturas de sociabilidades nas quais atuam, de forma interpenetrada, o ideológico, a vontade e gosto de conviver, a contingência e o fortuito. Por isso mesmo, “[…] o sentimento e a afetividade algumas vezes prevalecem sobre a Razão” (Sirinelli, 2003SIRINELLI, Jean-François. Os Intelectuais. In: RÉMOND, René (Org.). Por uma História Política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. P. 231-262., p. 260).
  • 2
    Sob o lema “Deus, Pátria e Família, o integralismo se propôs a combater o liberalismo, o socialismo, o capitalismo internacional e as sociedades secretas vinculadas ao judaísmo e à maçonaria” (Trindade, 2001TRINDADE, Helgio. Integralismo. In: ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; LAMARÃO, Sergio Tadeu de Niemeyer. Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001. (Volume III). P. 2807-2814., p. 2.811).
  • 3
    Organização política de âmbito nacional de estreitas relações com o comunismo, fundada em 1935. Sua plataforma incluía o combate ao “fascismo, ao imperialismo, ao latifúndio e à miséria”. Sobre a relação entre a ANL e o comunismo, Motta (2002, p. 181)MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em Guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva; FAPESP, 2002. explica que, “[…] embora haja controvérsias sobre o papel desempenhado pelos comunistas na fundação da ANL, pouco se questiona o papel dirigente assumido pelo Partido Comunista na condução das atividades da frente aliancista. Além de exercer forte influência sobre as posições ideológicas da entidade, em pouco tempo o Partido passou a ditar sua orientação política. O predomínio dos comunistas é explicável em grande parte pelo prestígio de Luiz Carlos Prestes, aclamado como Presidente de Honra da ANL”.
  • 4
    Nos anos de 1930, o Jornal Correio da Manhã basicamente “ignorou o movimento integralista”. Entre janeiro e abril de 1935, dedicou especial atenção à tramitação do anteprojeto da Lei de Segurança Nacional protestando contra o que denominou de “Lei da Opressão”. Antes disso, nos idos de 1920, “[…] foi um dos poucos jornais a demonstrar simpatia pelas propostas tenentistas e pelos rebeldes das revoluções de 1922 e 1924” (Leal, 2001aLEAL, Carlos Eduardo. Correio da Manhã. In: ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; LAMARÃO, Sergio Tadeu de Niemeyer. Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001a. (Volume II). P. 1.625-1.632., p. 1.627).
  • 5
    Bacharel em Ciências e Letras, diplomado pelo curso de Formação Profissional de Professor Primário do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, Miguel Costa Filho foi também redator de O Tempo, A Tarde, São Paulo Imparcial e Diário da Noite. Ao que tudo indica, era filho de Miguel Costa, importante figura do movimento tenentista e da coluna Prestes, responsável pela direção da ANL em São Paulo, juntamente com Caio Prado Júnior.
  • 6
    O fechamento da ANL decorreu da sua radicalização especialmente declarada no manifesto lido por Prestes em 05 de julho de 1935, por ocasião do 13º aniversário da primeira revolta tenentista. Como consequência, “enquanto vários participantes se desligaram do movimento, o governo utilizou a Lei de Segurança Nacional para fechar por decreto a organização, em 11 de julho de 1935” (Abreu, 2001ABREU, Alzira Alves de. Aliança Nacional Libertadora. In: ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; LAMARÃO, Sergio Tadeu de Niemeyer. Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001. (Volume I). P. 107-109., p. 109).
  • 7
    Na década de 1950, Wallon também presidiu a Federação Internacional Sindical de Ensino (FISE). De acordo com Memórias de um Educador, Paschoal Lemme (2004)LEMME, Paschoal. Memórias de um Educador – Paschoal Lemme. Brasília: INEP, 2004. foi convidado em 1953, pelo PCB, para integrar a delegação de educadores brasileiros na I Conferência Mundial de Educadores; evento organizado pela FISE e ocorrido em Viena. Na oportunidade, consta que visitou a União Soviética a fim de conhecer a organização do ensino naquele país e da qual resultou o seu livro A Educação na URSS, publicado em 1955 pela Editorial Vitória Ltda. Envolvido com questões relativas à sindicalização dos professores, Lemme disse que estreitou as suas relações com a FISE. Conta, ainda, que em 1956 publicou o trabalho Evolución histórica de la educación brasileña no primeiro número de Educadores do Mundo, órgão oficial da FISE.
  • 8
    Segundo Diana Vidal (2002)VIDAL, Diana Gonçalves. Edgar Sussekind de Mendonça. In: FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque; BRITTO, Jader de Medeiros (Org.). Dicionário de Educadores no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MEC; Inep; Comped, 2002. P. 285-290., o espancamento dos estudantes e a suspensão do evento levaram Sussekind de Mendonça e Armanda Álvaro Alberto a assinarem, “[…] em 16 de agosto, um manifesto em defesa do direito de reunião dos jovens para tratar de assuntos de juventude e da democracia” (Vidal, 2002VIDAL, Diana Gonçalves. Edgar Sussekind de Mendonça. In: FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque; BRITTO, Jader de Medeiros (Org.). Dicionário de Educadores no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MEC; Inep; Comped, 2002. P. 285-290., p. 289)
  • 9
    Ideário firmado na constituição de um sistema de educação com bases nacionais. Na defesa da escola pública, democrática e de qualidade e de um ensino laico, afirma o papel do Estado na condução do processo de construção da nação, em contraposição aos interesses da Igreja, que disputa pelo controle da educação; tal qual expresso no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932 (Xavier, 2004XAVIER, Libania Nacif. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova como Divisor de Águas na História da Educação Brasileira. In: XAVIER, Maria do Carmo (Org.). Manifesto dos Pioneiros da Educação – Um legado educacional em debate. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004. P. 21-38.).
  • 10
    Entre 1934 a 1945, o Diário Carioca esteve próximo da situação, “[…] passando a informar sobre as questões nacionais de maior repercussão de maneira bastante parcial”. Mostrou-se favorável à Lei de Segurança Nacional, tido como instrumento de defesa do regime e de segurança do povo brasileiro “[…] diante de quaisquer iniciativas de reação ao fascismo, como de repulsa ao comunismo”. Dentro dessa linha, o jornal fez “[…] cerrada oposição à Revolta Comunista de 1935” (Leal, 2001bLEAL, Carlos Eduardo. Diário Carioca. In: ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; LAMARÃO, Sergio Tadeu de Niemeyer. Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001b. (Volume II). P. 1.840-1.843., p. 1.841).
  • 11
    O Jornal do Brasil foi caracterizado como boletim de anúncios entre os anos de 1930 e 1950. No entanto, não se omitiu totalmente diante dos principais acontecimentos políticos do período. “Dentro de uma perspectiva conservadora e católica, criticou os movimentos de esquerda, como a Aliança Nacional Libertadora, e repudiou a Revolta Comunista de 1935”. Mas, numa posição antiextremista, também não acolheu com aprovação o movimento integralista (Ferreira; Montalvão, 2001FERREIRA, Marieta de Morais; MONTALVÃO, Sérgio. Jornal do Brasil. In: ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel; LATTMAN-WELTMAN, Fernando; LAMARÃO, Sergio Tadeu de Niemeyer. Dicionário Histórico-biográfico Brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2001. (Volume III). P. 2.866-2.875., p. 2.869).

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Editado por

Editora responsável: Lodenir Karnopp

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    18 Out 2021
  • Aceito
    17 Fev 2022
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