Violência civilizatória e neoliberalismo:
quando política e religião se encontram em Moçambique
DOI:
https://doi.org/10.22456/1982-5269.127872Resumo
Este artigo estabelece um paralelo analítico entre duas situações etnográficas distintas em Moçambique: a “Operação Limpeza”, uma campanha de repatriamento por forças da polícia da República de Moçambique iniciada em Montepuez em 2019, cuja nomenclatura reactivou práticas e discursos de uma acção iniciada em 1974, durante o governo de transição de Moçambique, e o discurso civilizatório, por meio do empreendedorismo, em igrejas pentecostais em Maputo. Embora díspares, as duas situações são fenómenos sociopolíticos relativas ao avanço do neoliberalismo no país. O argumento é de que ambas se relacionam com uma violência moral que orienta processos modernizantes, civilizadores e de empreendedorismo, os quais pressupõem que os moçambicanos precisariam ser educados pelo trabalho. Esses processos, alinhados ao neoliberalismo, pretendem a transformação moral dos moçambicanos, estabelecendo continuidades com fenómenos e discursos de outros momentos históricos do país.
Palavras-chave: Neoliberalismo. Deslocamento. Política. Religião. Civilização.