“RESPEITA A POLÍCIA”
A VIOLÊNCIA POLICIAL COMO UMA MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NO BRASIL
Palavras-chave:
violência, gênero, mulheres, polícia, EstadoResumo
Esta pesquisa objetiva compreender como a violência policial atinge as mulheres no
Brasil. Para isto, parte da indagação de quais são as formas da violência praticadas
por agentes do Estado contra as vítimas. A motivação para tal, corrobora com o
exercício de ampliar o debate da violência de gênero, evidenciando os atos de
violência estatal perpetrados por policiais e justificados pelo Estado. A insuficiência de
estatísticas oficiais, levaram a análise de notícias e, assim, a mídia surge como ponto
de partida, ou melhor, como uma modalidade de coleta de informações de expressões
de violências pouco investigadas e visibilizadas em pesquisas ou relatórios. A partir
da seleção de uma amostra de notícias o estudo observa que as mulheres estão
expostas a violências cotidianas praticadas por agentes da segurança pública. As
manifestações violentas ocorrem, predominantemente, em via pública são físicas e
verbais sendo as últimas, explicitamente, carregadas de uma gramática sexista,
racista e transfóbica. Dos 22 casos analisados, 8 notícias não expressam de nenhuma
forma a identidade racial da vítima, o que compõe 36,4% da amostra. Das matérias
que possibilitaram a apreensão dessa categoria de análise, em 11 delas as vítimas
eram negras (50%) e em 3 as vítimas eram brancas (13,6%). Em maioria, os casos
ocorreram em bairros periféricos das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Em
relação a violência letal, 83% das vítimas da letalidade policial eram mulheres negras.
Observamos a relevância dos marcadores de raça e território para a compreensão do
fenômeno da violência policial contra mulheres, uma vez que ele atinge
desproporcionalmente corpos negros em territórios racializados. Percebemos que no
caso das violências policiais contra as mulheres entra em cena um novo dispositivo
que são os vídeos. As imagens aparecem como principal instrumento de denúncia de uma manifestação invisibilizada da violência estatal no Brasil, capazes inclusive de
contrariar as versões da polícia.
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