Euclides da Cunha e a cor local: a pintura da história de Canudos
DOI:
https://doi.org/10.22456/1983-201X.70873Palavras-chave:
Euclides da Cunha, Cor local, Retórica pictórica, Escrita da históriaResumo
Publicada em 1902, a obra Os sertões, de Euclides da Cunha, tornou-se um clássico da reflexão e interpretação da realidade brasileira e, por extensão, ensejou o desenvolvimento de uma extensa fortuna crítica e analítica. O objetivo desse artigo é sugerir, pois, uma chave de leitura adicional que consiste em refletir sobre a produção euclidiana a partir do recurso narrativo da cor local. Embora amiúde associada à questão da construção da nacionalidade, o mecanismo da cor local dispõe igualmente de outras implicações e efeitos textuais que dizem respeito à dimensão imagética da narrativa. A partir dos critérios da nacionalidade e da visibilidade textual, procura-se investigar não somente a produção de Euclides, mas também parte de sua fortuna crítica ao longo do século XX. Como hipótese, então, sugere-se que a cor local é parte constitutiva do campo discursivo que compreende não somente a escrita euclidiana, mas também é perceptível nas avaliações de seus comentadores. Por sua vez, a presença do critério da cor local permite sugerir a importância do investimento imagético na prosa do autor e identificar um topos específico na fortuna crítica relativa à produção euclidiana.
Downloads
Referências
ALENCAR, José de. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, vol. 1, 1959.
ANDRADE, Olímpio de Souza. História e interpretação de Os sertões. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2002.
ARARIPE JÚNIOR, Tristão de Alencar. Indicações sobre a historia nacional. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, t. 57, parte 2, p. 259-290, 1894.
BALDICK, Chris. The concise Oxford dictionary of literary terms. Oxford: Oxford University Press, 2001.
BANDEIRA, Manuel. Os poemas de Euclides da Cunha. In: CUNHA, Euclides da. Obra completa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, vol. 1, 1966.
BERNUCCI, Leopoldo. A imitação dos sentidos: prógonos, contemporâneos e epígonos de Euclides da Cunha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.
BOULAY, Bérenger. Effets de présence et effets de vérité dans l’historiographie. Littérature, n. 159, p. 26-38, 2010.
CASTRO ROCHA, João Cezar de. O exílio do homem cordial: ensaios e revisões. Rio de Janeiro: Museu da República, 2004.
CEZAR, Temístocles. L’écriture de l’ histoire au Brésil au XIXe siècle. Essai sur une rhétorique de la nationalité. Le cas Varnhagen. Tese (Doutorado em história). Paris: EHESS, 2 vols., 2002.
CONSTANT, Benjamin. Réflexions sur la tragédie [...]. Revue de Paris. Bruxelles: Demengeot et Goodman. tomo 7, 1829, p. 132-147.
COSTA LIMA, Luiz. Terra ignota: a construção de Os sertões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
CUDDON, J.A. The Penguin Dictionary of literary terms and literary theory. London: Penguin Books, 1999.
CUNHA, Euclides da. Obra completa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, vol. 1, 1966.
DENIS, Ferdinand. Résumé de l’ histoire littéraire du Portugal, suivi du résumé de l’ histoire littéraire du Brésil. Paris: Lecointe et Durey Libraires, 1826.
ESCARPIT, Robert. Dictionnaire international des termes litteraires. Berne: A. Francke, 5v., 1986.
FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003.
FLUCKIGER, Carine. L’ histoire entre art et science: la “couleur locale” chez Thierry et Barante. Université de Genève. Mémoire de licence, 1995.
FREITAS, Leopoldo. Os sertões. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 35-37.
GALVÃO, Walnice. “Euclides da Cunha: Os sertões”. In: MOTA, Lourenço Dantas (Org.). Introdução ao Brasil: um banquete no trópico. São Paulo: Editora SENAC, p. 151-170, 1999.
______. Fortuna crítica. In: CUNHA, Euclides da. Os sertões – edição crítica. São Paulo: Ubu Editora: Edições Sesc São Paulo, v. 1, 2016, p. 609-686.
HARDMAN, Francisco Foot. Brutalidade antiga sobre história e ruína em Euclides. Estudos avançados. São Paulo: EdUSP, v. 10, n. 26, p. 293-310, 1996.
HOVENKAMP, J.W. Mérimée et la couleur locale. Contribution à l’étude de la couleur locale. Paris: Libr. les Belles Lettres, 1928.
HUGO, Victor. Oeuvres Complètes. Drame. Paris: Alexandre Houssiaux: Libraire-éditeur, tomo 1, 1864.
KAMERBEEK Jr., Jan. Tenants et aboutissements de la notion de “couleur locale”. Utrech: uitgave van het, Instituut voor vergelijkend literatuuronderzoek aan de rijksuniversiteit te utrecht, 1962.
KAPOR, Vladimir. Exotisme et couleur locale – essai d’une analyse constrastive des champs sémantiques respectifs. Proceedings, France and the Exotic. University of Birmingham, p. 1-11, 2003.
______. Local colour: a travelling concept. Bern: Peter Lang AG, 2009.
MORETTI, Franco. The bourgeois: between literature and history. London; New York: Verso, 2013.
NICOLAZZI, Fernando. Como se deve ler a história? Leitura e legitimação na historiografia moderna. Varia história. Belo Horizonte, v. 26, n. 44, p. 523-545, jul./dez., 2010.
OLIVEIRA, Maria da Glória de. Escrever vidas, narrar a história. A biografia como problema historiográfico no Brasil oitocentista. Tese (Doutorado em história). Rio de Janeiro: UFRJ, 2009, p. 48-49.
PENHA, José da. “Um livro!”. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 26-34.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, tomo 3, 1997.
______. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.
ROMERO, Sílvio. Discurso. FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 123-158.
TEIXEIRA, Múcio. Euclides da Cunha – Campanha de Canudos. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 42-45.
VERÍSSIMO, José. Uma história dos sertões e da campanha de Canudos. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 46-54.
WOLF, Ferdinand. Le Brésil littéreire: histoire de la littérature brésilienne [...]. Berlin: A. Asher & Co., 1863.
ZILLY, Berthold. A guerra como painel e espetáculo. A história encenada em Os sertões. História, Ciências, Saúde — Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 5, supl., jul., 1998, s/p.