Euclides da Cunha e a cor local: a pintura da história de Canudos

Autores

  • Eduardo Wright Cardoso Professor de Teoria da História na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.70873

Palavras-chave:

Euclides da Cunha, Cor local, Retórica pictórica, Escrita da história

Resumo

Publicada em 1902, a obra Os sertões, de Euclides da Cunha, tornou-se um clássico da reflexão e interpretação da realidade brasileira e, por extensão, ensejou o desenvolvimento de uma extensa fortuna crítica e analítica. O objetivo desse artigo é sugerir, pois, uma chave de leitura adicional que consiste em refletir sobre a produção euclidiana a partir do recurso narrativo da cor local. Embora amiúde associada à questão da construção da nacionalidade, o mecanismo da cor local dispõe igualmente de outras implicações e efeitos textuais que dizem respeito à dimensão imagética da narrativa. A partir dos critérios da nacionalidade e da visibilidade textual, procura-se investigar não somente a produção de Euclides, mas também parte de sua fortuna crítica ao longo do século XX. Como hipótese, então, sugere-se que a cor local é parte constitutiva do campo discursivo que compreende não somente a escrita euclidiana, mas também é perceptível nas avaliações de seus comentadores. Por sua vez, a presença do critério da cor local permite sugerir a importância do investimento imagético na prosa do autor e identificar um topos específico na fortuna crítica relativa à produção euclidiana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Eduardo Wright Cardoso, Professor de Teoria da História na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2010. Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em 2012. Doutor em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 2016.

Referências

ALENCAR, José de. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, vol. 1, 1959.

ANDRADE, Olímpio de Souza. História e interpretação de Os sertões. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2002.

ARARIPE JÚNIOR, Tristão de Alencar. Indicações sobre a historia nacional. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, t. 57, parte 2, p. 259-290, 1894.

BALDICK, Chris. The concise Oxford dictionary of literary terms. Oxford: Oxford University Press, 2001.

BANDEIRA, Manuel. Os poemas de Euclides da Cunha. In: CUNHA, Euclides da. Obra completa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, vol. 1, 1966.

BERNUCCI, Leopoldo. A imitação dos sentidos: prógonos, contemporâneos e epígonos de Euclides da Cunha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.

BOULAY, Bérenger. Effets de présence et effets de vérité dans l’historiographie. Littérature, n. 159, p. 26-38, 2010.

CASTRO ROCHA, João Cezar de. O exílio do homem cordial: ensaios e revisões. Rio de Janeiro: Museu da República, 2004.

CEZAR, Temístocles. L’écriture de l’ histoire au Brésil au XIXe siècle. Essai sur une rhétorique de la nationalité. Le cas Varnhagen. Tese (Doutorado em história). Paris: EHESS, 2 vols., 2002.

CONSTANT, Benjamin. Réflexions sur la tragédie [...]. Revue de Paris. Bruxelles: Demengeot et Goodman. tomo 7, 1829, p. 132-147.

COSTA LIMA, Luiz. Terra ignota: a construção de Os sertões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

CUDDON, J.A. The Penguin Dictionary of literary terms and literary theory. London: Penguin Books, 1999.

CUNHA, Euclides da. Obra completa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, vol. 1, 1966.

DENIS, Ferdinand. Résumé de l’ histoire littéraire du Portugal, suivi du résumé de l’ histoire littéraire du Brésil. Paris: Lecointe et Durey Libraires, 1826.

ESCARPIT, Robert. Dictionnaire international des termes litteraires. Berne: A. Francke, 5v., 1986.

FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003.

FLUCKIGER, Carine. L’ histoire entre art et science: la “couleur locale” chez Thierry et Barante. Université de Genève. Mémoire de licence, 1995.

FREITAS, Leopoldo. Os sertões. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 35-37.

GALVÃO, Walnice. “Euclides da Cunha: Os sertões”. In: MOTA, Lourenço Dantas (Org.). Introdução ao Brasil: um banquete no trópico. São Paulo: Editora SENAC, p. 151-170, 1999.

______. Fortuna crítica. In: CUNHA, Euclides da. Os sertões – edição crítica. São Paulo: Ubu Editora: Edições Sesc São Paulo, v. 1, 2016, p. 609-686.

HARDMAN, Francisco Foot. Brutalidade antiga sobre história e ruína em Euclides. Estudos avançados. São Paulo: EdUSP, v. 10, n. 26, p. 293-310, 1996.

HOVENKAMP, J.W. Mérimée et la couleur locale. Contribution à l’étude de la couleur locale. Paris: Libr. les Belles Lettres, 1928.

HUGO, Victor. Oeuvres Complètes. Drame. Paris: Alexandre Houssiaux: Libraire-éditeur, tomo 1, 1864.

KAMERBEEK Jr., Jan. Tenants et aboutissements de la notion de “couleur locale”. Utrech: uitgave van het, Instituut voor vergelijkend literatuuronderzoek aan de rijksuniversiteit te utrecht, 1962.

KAPOR, Vladimir. Exotisme et couleur locale – essai d’une analyse constrastive des champs sémantiques respectifs. Proceedings, France and the Exotic. University of Birmingham, p. 1-11, 2003.

______. Local colour: a travelling concept. Bern: Peter Lang AG, 2009.

MORETTI, Franco. The bourgeois: between literature and history. London; New York: Verso, 2013.

NICOLAZZI, Fernando. Como se deve ler a história? Leitura e legitimação na historiografia moderna. Varia história. Belo Horizonte, v. 26, n. 44, p. 523-545, jul./dez., 2010.

OLIVEIRA, Maria da Glória de. Escrever vidas, narrar a história. A biografia como problema historiográfico no Brasil oitocentista. Tese (Doutorado em história). Rio de Janeiro: UFRJ, 2009, p. 48-49.

PENHA, José da. “Um livro!”. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 26-34.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, tomo 3, 1997.

______. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.

ROMERO, Sílvio. Discurso. FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 123-158.

TEIXEIRA, Múcio. Euclides da Cunha – Campanha de Canudos. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 42-45.

VERÍSSIMO, José. Uma história dos sertões e da campanha de Canudos. In: FACIOLI, Valentim; NASCIMENTO, José E. (Orgs.). Juízos críticos. Os Sertões e os olhares de sua época. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Unesp, 2003, p. 46-54.

WOLF, Ferdinand. Le Brésil littéreire: histoire de la littérature brésilienne [...]. Berlin: A. Asher & Co., 1863.

ZILLY, Berthold. A guerra como painel e espetáculo. A história encenada em Os sertões. História, Ciências, Saúde — Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 5, supl., jul., 1998, s/p.

Downloads

Publicado

2018-07-19

Como Citar

Cardoso, E. W. (2018). Euclides da Cunha e a cor local: a pintura da história de Canudos. Anos 90, 25(47), 279–304. https://doi.org/10.22456/1983-201X.70873

Edição

Seção

Artigos