Iniquidades socioeconômicas na saúde bucal de estudantes universitários do sul do Brasil

Autores

  • Larissa Tavares Henzel Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Odontologia, Pelotas, RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-7337-4431
  • Mateus Costa Silveira Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Odontologia, Pelotas, RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-5576-9672
  • Sarah Arangurem Karam Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-3921-0182
  • Helena Silveira Schuch Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0001-9932-9698
  • Mariana Gonzalez Cademartori Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-2433-8298
  • Marcos Britto Correa Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Pelotas, RS, Brasil https://orcid.org/0000-0002-1797-3541
  • Flávio Fernando Demarco Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, Pelotas, RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-2276-491X

DOI:

https://doi.org/10.22456/2177-0018.109536

Palavras-chave:

Determinantes sociais da saúde, Inequidade social, Cárie dentária, Saúde bucal

Resumo

Objetivo: Identificar a magnitude da associação entre experiência de cárie dentária e autopercepção negativa de saúde bucal com determinantes socioeconômicos. Métodos: Estudo transversal realizado com dados de uma coorte prospectiva com os universitários ingressantes na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) no ano de 2016. Os dados foram coletados por meio de questionário autoaplicável, incluindo características demográficas, socioeconômicas e psicossociais. Os desfechos do presente estudo foram a experiência de cárie autorrelatada (histórico de doença cárie) e autopercepção de saúde bucal (positiva versus negativa). Resultados: Um total de 3.237 alunos ingressou, dos quais 2.089 (64,5%) concordaram em participar do estudo. O modelo de regressão de Poisson mostrou que universitários com renda familiar de R$1001,00 a 5000,00 e R$5001,00 ou mais apresentaram, respectivamente, uma razão de prevalência (RP) 14% (RP=0,86; IC95% 0,80-0,92) e 18% (RP=0,82; IC95% 0,74 a 0,90) menor de experiência de cárie, assim como indivíduos cujas mães tinham ensino médio completo apresentaram uma prevalência 14% menor (RP= 0,86; IC95% 0,80 a 0,92) e ensino superior completo 19% (RP= 0,81; IC95% 0,75 a 0,87) menor de experiência de cárie, quando comparados aos grupos de referência. Na autopercepção de saúde bucal, os resultados para renda familiar de R$1001 a 5000,00 e R$ 5001 ou mais apresentaram, respectivamente, uma prevalência 23% (RP= 0,77; IC95% 0,64 a 0,91) e 43% (RP= 0,57; IC95% 0,45 a 0,72) menor de ter autopercepção de saúde bucal negativa e indivíduos cujas mães tinham ensino superior completo reportaram uma prevalência 21% menor de autopercepção de saúde bucal negativa quando comparados à referência (RP= 0,79; IC95% 0,66 a 0,97). Conclusões: Os achados do presente estudo confirmam que os indicadores socioeconômicos influenciam a experiência de cárie autorrelatada e a autopercepção de saúde bucal dos universitários.

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Biografia do Autor

Sarah Arangurem Karam, Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Pelotas, RS, Brasil

Doutoranda em Epidemiologia(PPGE) e Saúde Bucal Coletiva(PPGO) na Universidade Federal de Pelotas

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Publicado

2021-08-09

Como Citar

Henzel, L. T., Silveira, M. C., Karam, S. A., Schuch, H. S., Cademartori, M. G., Correa, M. B., & Demarco, F. F. (2021). Iniquidades socioeconômicas na saúde bucal de estudantes universitários do sul do Brasil. Revista Da Faculdade De Odontologia De Porto Alegre, 62(1), 33–43. https://doi.org/10.22456/2177-0018.109536

Edição

Seção

Artigos originais