Momentos e temporalidades das vanguardas “no, do e sobre o feminino”

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Resumo

Por que a cultura modernista foi tão incapaz de integrar imaginativamente a criatividade das mulheres em suas narrativas de radicalismo, inovação, dissidência e transgressão, quando o gênero deveria ser reconhecido como um dos pontos nevrálgicos da própria modernidade? Se a história canônica da arte introduziu gênero no modernismo apenas no negativo, apagando suas representantes mais ativas – as mulheres vanguardistas - como pode uma arqueologia retrospectiva da vanguarda, não como uma única vanguarda, mas como uma constelação de momentos contingentes históricos e auto posicionamentos radicais, vis-à-vis com a triangulação da família, do estado e da religião - típico da modernidade burguesa ocidental -, abrirem novas linhas de análise, revelar o lugar oscilante do "feminino/le féminin" em todas as vanguardas? Baseando-se na sociologia contemporânea da modernidade líquida de Zygmunt Bauman e nos pensamentos sempre férteis de Julia Kristeva sobre as temporalidades da diferença sexual, este artigo argumenta, em primeiro lugar, que em tempos líquidos o terreno relativamente sólido contra o qual operava a transgressão de vanguarda não é mais operativo, deslocando o modelo clássico da vanguarda, enquanto, em segundo lugar, a perspectiva feminista sobre a longa duração da ordem simbólica falocêntrica coloca uma intervenção “no, do e sobre o feminino” continuamente em uma posição estratégica de dissidência histórica e transformadora. Meu argumento tece materialismo histórico, psicanálise e teorias feministas de estética e diferença sexual, contestando as rápidas mudanças na moda intelectual típica da modernidade líquida que estão se infiltrando na academia e levando ao abandono prematuro de certos projetos político-intelectuais. Apesar de todos os perigos e complexidades de pensar sobre "o feminino" em qualquer forma, e certamente agora, quando as altas teorias feministas da diferença sexual são aparentemente tão démodé, mostro como este conceito problemático e preocupante ainda é historicamente significativo e teoricamente relevante para repensar a vanguarda.

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Biografia do Autor

Griselda Pollock, University of Leeds

É escritora, professora, teórica, curadora e analista e dos estudos feministas pós-coloniais nas artes visuais, conhecida por suas inovações teóricas e metodológicas. Desde 1977, Pollock é uma influente pensadora da arte moderna, de vanguarda, pós-moderna e contemporânea, atuando também nas áreas de teoria feminista, história da arte feminista e estudos de gênero, sendo considerada uma das principais proponentes da relação entre feminismo e história da arte. Também pesquisa a relação entre a arte e a psicanálise, baseando-se no trabalho de teoristas culturais franceses. Ela é conhecida por seus trabalhos sobre os artistas Jean-François Millet, Vincent van Gogh, Mary Cassatt, Eva Hesse e Charlote Salomon.

Thiane Nunes, UFRGS

É doutora em Artes Visuais, com ênfase em História, Teoria e Crítica pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisa as questões da presença e ausência na arte, bem como os diferentes regimes de representação. Desenvolve pesquisas que analisam a misoginia, o patriarcado cultural e a invisibilidade da artista feminina, com interesse pelos registros historiográficos, especialmente no período que compreende as Vanguardas Históricas e modernismos díspares. Atua numa perspectiva social e feminista da arte, apontando questões relativas ao cânone e praticando a perturbação dos discursos e narrativas feitas pela historiografia oficial. Possui livro, traduções, entrevistas e artigos publicados, no país e exterior. 

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Publicado

2022-07-25

Edição

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Traduções