Semicidadania induzida: neoliberalismo e discursos conservadores sobre gênero no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22456/2238-152X.120617

Palavras-chave:

Conservadorismo, Neopentecostalismo, Neoliberalismo, Gênero.

Resumo

O presente artigo trata de discutir algumas questões referentes ao cenário social e político brasileiro. Ainda que esteja previsto em lei a universalidade de direitos, alguns grupos de pessoas são sistematicamente vulnerabilizados e excluídos, o que se complexifica a depender dos diferentes fatores que atravessam interseccionalmente seus corpos e experiências, entre eles, gênero, sexualidade, classe, raça, etnia. Essa situação se agrava com a ascensão de certos grupos e discursos, os quais discutimos três: conservadorismo, neopentecostalismo e neoliberalismo. Mesmo que eles sejam heterogêneos, guardando entre si diferenças importantes, atuam em conjunto em diversas circunstâncias. Apresentamos uma leitura desse cenário, estabelecendo relações entre os elementos apresentados que são produtores de subjetividades e de formas de relações específicas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Carolina Franco Brito, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Investigadora na área de dos estudos de gênero, teorias feministas e teorias queer. Atualmente está pesquisando sobre os processos convencionalmente denominados de “destransição de gênero”.

Maria Juracy Filgueiras Toneli, Universidade Federal de Santa Catarina

Psicóloga (UFMG), mestre em Educação (UFSC), doutora em Psicologia (USP), pós-doutora (UFMG e UMinho/PT), professora titular do Departamento de Psicologia da UFSC, onde leciona e orienta na pós-graduação (PPGP), pesquisadora 1A do CNPq, co-fundadora do Núcleo Margens: Modos de vida, família e relações de gênero (PSI/UFSC), conselheira do CFP (Conselho Federal de Psicologia – 2020-2022).

João Manuel de Oliveira, Instituto Universitário de Lisboa

Investigador do Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. Doutor em Psicologia Social.

Referências

Almeida, R. (2017). A onda quebrada - evangélicos e conservadorismo. Cadernos Pagu, (50). doi: http://dx.doi.org/10.1590/18094449201700500001

Almeida, R. (2019). Bolsonaro presidente: conservadorismo, evangelismo e crise brasileira. Novos Estudos CEBRAP, 38(1). doi: http://dx.doi.org / 10.25091/ S01013300201900010010

Álvarez, P. L. (2010). Biopolítica, liberalismo y neoliberalismo: acción política y gestión de la vida en el íltimo Foucault. In S. Arribas, G. Cano & J. Ugarte (Coords.), Hacer vivir, dejar morir. Biopolítica y capitalismo (pp. 39-61). Madrid, Espanha: CSIC/Catarata.

Benevides, B. (2019). 2019: Brasil segue na liderança dos assassinatos contra pessoas trans no mundo. Antra, 13 de novembro de 2019. Recuperado de https://antrabrasil.org/2019/11/13/2019-brasil-segue-na-lideranca-dos-assassinatos-contra-pessoas-trans-no-mundo/

Benevides, B. (2020). Assassinatos de pessoas trans voltam a subir em 2020. Antra, 3 de maio de 2020. Recuperado de https://antrabrasil.org/category/violencia/

Bento, B. (2018). Necrobiopoder: Quem pode habitar o Estado-nação? Cadernos Pagu, (53). doi https://doi.org/10.1590/18094449201800530005

Bonassi, B. C., Amaral, M. S., Toneli, M. J. F. & Queiroz, M. A. (2015). Vulnerabilidades mapeadas, Violências localizadas: Experiências de pessoas travestis e transexuais no Brasil. Quaderns de Psicologia, 17(3), 83-98. doi: https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1283

Brasil (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. Recuperado de https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/constituicao-1988-5-outubro-1988-322142-publicacaooriginal-1-pl.html

Burckhart, T. (2018). Constitucionalismo, Direitos Humanos e Laicidade: Neopentecostalismo e Política no Brasil Contemporâneo. Revista Eletrônica Direito e Política, 13(1), 389-415. doi: https://doi.org/10.14210/rdp.v13n1.p389-415

Butler, J. (2015). Quadros de Guerra. Rio de Janeiro, Brasil: Civilização Brasileira.

Butler, J. (2020). Corpos que importam: Os limites discursivos do “sexo”. São Paulo, Brasil: N1-edições.

Cardoso, F. G. & Reis, C. F. B. (2019). Velhos dilemas, antiquadas soluções: o Brasil na contramão do desenvolvimento. In R. Chaves (Ed.), Brasil: incertezas e submissão? (pp. 127-150). São Paulo, Brasil: Fundação Perseu Abramo.

Chaia, V. & Brugnago, F. (2014). A nova polarização política nas eleições de 2014: Radicalização ideológica da direita no mundo contemporâneo do Facebook. Revista Aurora, 7(21). Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/view/22032

Cohen, E. (2009). Semi-citizeenship in democratic politics. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press.

Crenshaw, K. (2004). A intersecionalidade na discriminação de raça e gênero. Cruzamento: raça e gênero, 7-16. Recuperado de https://static.tumblr.com/7symefv/V6vmj45f5/kimberle-crenshaw.pdf

Custódio, T. (2019). Ninguém viu, ninguém vê: comentários sobre o estado da violência na atual democracia (de poucos). In R. P. Machado & A. Freixo (Orgs.), Brasil em Transe: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização (pp. 95-112). Rio de Janeiro, Brasil: Oficina Raquel.

Dardot, P. & Laval, C. (2016). A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo, Brasil: Boitempo.

Duggan, L. (2003). The twilight of equality: Neoliberalism, cultural politics and the attack on democracy. Nova York, Estados Unidos da América: Beacon Press.

Evans, D. (1993). Sexual citizenship: The material construction of sexualities. Londres, Inglaterra: Routledge.

Falomir, E. (2011). Introducción. In A. Mbembe (A.a), Necropolítica (pp. 9-16). Santa Cruz de Tenerife, Espanha: Editorial Melusina.

Faustino, D. (2014). O pênis sem o falo: algumas reflexões sobre homens negros, masculinidades e racismo. In E. A. Blay (Org.), Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher (77-104). São Paulo, Brasil: Cultura Acadêmica.

Foucault, M. (2008). Nascimento da Biopolítica. São Paulo, Brasil: Martins Fontes.

Freixo, A. & Machado, R. P. (2019). Dias de um futuro (quase) esquecido: um país em transe, a democracia em colapso. In R. P. Machado & A. Freixo (Orgs.), Brasil em Transe: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização (pp. 8-20). Rio de Janeiro, Brasil: Oficina Raquel.

Gadelha, S. & Duarte, A. (2014). O policiamento comunitário como dispositivo neoliberal de governo no campo da segurança. In N. Avelino & S. Vaccaro (Orgs.), Governamentalidade (pp. 129-169). São Paulo, Brasil: Intermeios.

Gallego, E. S. (2019). Quem é o inimigo? Retóricas de inimizade nas redes sociais no período 2014-2017. In R. P. Machado & A. Freixo (Orgs.), Brasil em Transe: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização (pp. 66-78). Rio de Janeiro, Brasil: Oficina Raquel.

Hall, S. (2011). The neo-liberal revolution. Soundings, 48, 9-27. doi: https://doi.org/10.1080/09502386.2011.619886

Junqueira, R. D. (2018). A invenção da “ideologia de gênero”: a emergência de um cenário políticodiscursivo e a elaboração de uma retórica reacionária antigênero. Psicologia Política, 18(43), 449-502. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2018000300004

Krieger, F. (2020). Datafolha: 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos e 10% não têm religião. Informe Blumenau, 13 de janeiro de 2020. Recuperado de https://www.informeblumenau.com/datafolha-50-dos-brasileiros-sao-catolicos-31-evangelicos-e-10-nao-tem-religiao/

Limongi, M. I. (2007). A racionalização do medo na política. In: Novaes, A. Ensaios sobre o Medo. São Paulo, Brasil: Editora Senac.

Maia, T. V. & Pontin, F. (2019). Cidadania, semi-cidadania e democracia no Brasil contemporâneo. In R. P. Machado & A. Freixo (Orgs.), Brasil em Transe: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização (pp. 113-120). Rio de Janeiro, Brasil: Oficina Raquel.

Mariano, R. (2011). Laicidade à brasileira: católicos, pentecostais e laicos em disputa na esfera pública. Civitas, 11(2), 238-258. doi: https://doi.org/10.15448/1984-7289.2011.2.9647

Mbembe, A. (2016). Necropolítica. Arte & Ensaios, 32, 123-151. Recuperado de https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993

Messenberg, D. (2019). A cosmovisão da “nova” direita brasileira. In R. P. Machado & A. Freixo (Orgs.), Brasil em Transe: Bolsonarismo, Nova Direita e Desdemocratização (pp. 21-39). Rio de Janeiro, Brasil: Oficina Raquel.

Oliveira, J. M. (2013). Cidadania sexual sob suspeita: uma meditação sobre as fundações homonormativas e neo-liberais de uma cidadania de “consolação”. Psicologia & Sociedade, 25(1), 68-78. Recuperado de https://www.scielo.br/j/psoc/a/jC7kRjXmQLwGq4SXGgYt9kx/?format=pdf&lang=pt

Oliveira, J. M. (2014). A necropolítica e as sombras na teoria feminista. Ex aequo, (29), 69-82. doi: https://doi.org/10.22355/exaequo.2014.29.05

Ortunes, L., Martinho, S. G. & Chicarino, T. S. (2019). A instrumentalização do discurso do medo: pastores midiáticos e o período pré-eleitoral de 2014. Intercom – RBCC, 42(2), 121-146. doi https://doi.org/10.1590/1809-5844201926

Platero, L. M. (2014). La agencia de los jóvenes trans* para enfrentarse a la transfobia. Revista Internacional de Pensamiento Político, 9, 183-193. Recuperado de https://www.upo.es/revistas/index.php/ripp/article/view/3630

Prado, M. A. & Correa, S. (2018). Retratos transnacionais e nacionais das cruzadas antigênero. Psicologia Política, 18(43), 444-448. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2018000300003

Richardson, D. (2004). Locating sexualities: From here to normality. Sexualities, 7(4), 391-411. doi: https://doi.org/10.1177/1363460704047059

Richardson, D. (2005). Desiring Sameness? The Rise of a Neoliberal Politics of Normalisation. Antipode, 37(3), 515–535. doi: https://doi.org/10.1111/j.0066-4812.2005.00509.x

Rios, R. R. (n.d). Democracia e debate constitucional: a garantia da laicidade e as ameaças fundamentalistas. Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, 1-4. Recuperado de http://www.clam.org.br/uploads/arquivo/artigo_roger_fundamentalismo_.pdf

Rios, R. R., & Resadori, A. H. (2018). Gênero e seus/suas detratores/as: “ideologia de gênero” e violações de Direitos Humanos. Psicologia Política, 18(43), 622-636. Recuperado de https://docero.com.br/doc/nvexc5x

Silveira, S. A. (2019). Concentração, modulação e desinformação nas redes. In R. Chaves (Ed.), Brasil: incertezas e submissão? (pp. 27-44). São Paulo, Brasil: Fundação Perseu Abramo.

Todorov, T. (2012). Os inimigos íntimos da democracia. São Paulo, Brasil: Companhia das Letras.

Toneli, M. J. F. & Amaral, M. S. (2013). Sobre travestilidades e políticas públicas: como se produzem os sujeitos da vulnerabilidade. In H. C. Nardi, R. S. Silveira & P. S. Machado (Orgs.), Diversidade Sexual, Relações de Gênero e Políticas Públicas (pp. 32-48). Porto Alegre, Brasil: Meridional.

Vázquez, C. L., Toneli, M. J. F. & Oliveira, J. M. (2019). Necropolítica, políticas públicas interseccionales y ciudadanía trans*. Ex aequo, 40, 141-156. doi: https://doi.org/10.22355/exaequo.2019.40.09

Vergueiro, V. (2016). Pensando a cisgeneridade como crítica decolonial. In S. Messeder, M. G. Castro & L. Moutinho (Orgs.), Enlaçando sexualidades: uma tessitura interdisciplinar no reino das sexualidades e das relações de gênero (pp. 249-270). Salvador, Brasil: EDUFBA.

Weber, M. (1992). A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais. São Paulo, Brasil: Unicamp.

Downloads

Publicado

2022-12-21

Como Citar

Brito, C. F., Toneli, M. J. F., & Oliveira, J. M. de. (2022). Semicidadania induzida: neoliberalismo e discursos conservadores sobre gênero no Brasil. Revista Polis E Psique, 12(2), 185–205. https://doi.org/10.22456/2238-152X.120617

Edição

Seção

Artigos