Cândido Neves e a permanência da escravidão

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DOI:

https://doi.org/10.22456/1981-4526.126948

Resumo

O conto de Machado de Assis, “Pai contra Mãe”, é publicado em Relíquias de Casa Velha, em 1906, época em a população brasileira sofria os impactos do início da revolução industrial. A narrativa, porém, desenvolve-se no período da escravidão e tem como protagonista Cândido Neves, caçador de escravos que, para manter o filho, entrega uma escrava grávida a seu proprietário. Por sua crueza, o conto pode ser lido como um libelo contra a escravidão, mas nele há elementos que transcendem o âmbito do narrado. Por um lado, os protagonistas figurativizam a paternidade e a maternidade, condição que não é espacialmente limitada, razão pela qual o conflito entre pais, que buscam garantir a sobrevivência dos filhos e usufruir de seu convívio, é ontológico. Por outro, o conto remete a aspectos do contexto socioeconômico brasileiro, pois, embora vença a luta com Arminda e consiga a recompensa, a vitória de Cândido Neves é marcada pela precariedade, pois ele é um sujeito inapto para o trabalho. Portanto, o conto abre espaço para reflexões a respeito da crueldade com que eram tratados os escravos no Brasil e do natural desejo dos pais de preservarem seus filhos; trata, igualmente, das relações de trabalho que, no momento em que a mão de obra escrava é eliminada, se estabelecem no país e instalam exigências da indústria em relação à mão de obra operária. Assim, no início do século XX, ao olhar para a sociedade fluminense, Machado de Assis, melancolicamente, verifica que, ao contrário do que acreditara, formas de escravidão ainda se mantinham, embora fossem outros os aparelhos de opressão. A conclusão legitima-se na análise dos entraves que, na passagem da Monarquia à República e da produtividade agrária para a industrial, impediram o acesso de avanços econômicos e sociais para um expressivo contingente da população brasileira.

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Publicado

2022-09-05

Como Citar

Juracy Assmann Saraiva. (2022). Cândido Neves e a permanência da escravidão. Nau Literária, 18(1). https://doi.org/10.22456/1981-4526.126948