O tema do feminicídio em dois microcontos de Marina Colasanti: uma leitura de Porém igualmente e Uma questão de educação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22456/1981-4526.119674

Palavras-chave:

Violência de gênero, Violência doméstica, Feminicídio, Microconto, Marina Colasanti

Resumo

Com o feminismo, as mulheres avançaram na conquista de muitos direitos. Na literatura, contudo, a mulher ainda está acanhada, seja pela ofuscação decorrente da avassaladora quantidade de escritores e personagens masculinos (DALCASTAGNÈ, 2007), seja porque, enquanto figura textual, se encontra submissa ao plano de personagem secundária em grande parte das obras produzidas. Nesse contexto, Marina Colasanti constitui-se voz destacada na literatura brasileira, com uma escrita poética e com obras que impulsionam a reflexão sobre as discussões em torno do gênero, com ênfase nas relações estabelecidas entre homens e mulheres nos espaços doméstico e familiar. Em boa parte de suas narrativas, a autora traz à cena situações de violências física e simbólica contra as mulheres, incluindo o feminicídio. Diante disso, este artigo buscou analisar os modos como a violência de gênero, com ênfase no feminicídio, são constituídos em dois microcontos de Colasanti: Porém igualmente, publicado na coletânea Um espinho de Marfim & outras histórias (1999), e Uma questão de educação, que integra o livro Contos de amor rasgados (1986). Para tanto, tomaram-se, teoricamente, os estudos de Beauvoir (2009), de Dalcastagnè (2007), de Saffioti (1987, 1999, 2001) e de Gomes (2016). Ao final do trabalho, verificou-se, nos microcontos de Marina Colasanti, um forte tom irônico que implica na denúncia de toda forma de violência contra a mulher, esta que está articulada às estruturas socioculturais que constituem as condições de produção e de reprodução da violência de gênero, especialmente o feminicídio.

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Biografia do Autor

Guilherme Moés, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Doutorando em Linguística no Programa de Pós-Graduação em Linguística (Proling), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especialista em Linguística Aplicada, em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e em Produção de Material Didático, pela Faculdade Matenense dos Vales Gerais (Intervale). Possui graduação em licenciatura em Letras/Português pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e graduação em licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UniNassau). É integrante do grupo de pesquisa Ateliê de Textos Acadêmicos (ATA/CNPq/UFPB). Durante a graduação em Letras/Português, participou dos seguintes projetos atrelados ao Programa de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC): "Mulheres subjugadas, mulheres em resistência: representações da violência de gênero em contos de Marina Colasanti e Conceição Evaristo" e "Entre a censura e a ditadura: a produção de literatura por mulheres no Brasil entre 1964 e 1985".

Kalina Naro Guimarães, Universidade Estadual da Paraíba (UFPB)

Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é professora da área de literatura brasileira e prática de ensino no Departamento de Letras e Artes, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB/Campus I). Atualmente, também coordena o projeto de extensão Nas asas da leitura, na mesma universidade.

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Publicado

2023-02-06

Como Citar

Moés, G., & Guimarães, K. N. (2023). O tema do feminicídio em dois microcontos de Marina Colasanti: uma leitura de Porém igualmente e Uma questão de educação. Nau Literária, 18(2). https://doi.org/10.22456/1981-4526.119674