PIERRE CLASTRES E A FÓRMULA “CONTRA-ESTADO”
ANTROPOLOGIA DA RESISTÊNCIA E DO MOVIMENTO
Resumo
Resistir à forma-Estado supõe uma operação de recusa ativa ou criativa, que somente pode ser protagonizada por movimentos aberrantes, políticas de resistência e de fluxo. Partindo da célebre fórmula de Pierre Clastres “a sociedade contra o Estado”, na territorialidade das Terras Baixas que, segundo a clássica separação na etnologia americanista, compreendem os territórios das então chamadas sociedades primitivas, nas quais desenvolveram-se interessantes mecanismos sociais de perpétuo movimento criativo (celeritas), que operam como um sistema de recusas ou de impedimentos da sedentarização da forma-Estado e da expansão de sua zona gravitacional (gravitas). Assim, a antropologia de Pierre Clastres não é sobre qualquer homem ou sobre qualquer sociedade, é uma antropologia da política, da recusa e dos seus respectivos movimentos ou mecanismos sociais, ou seja, é uma antropologia sobre coletivos que constantemente escapam ao “grande atrator da razão” e do Estado. A “sociedade primitiva” sempre existirá, como exterior imanente do Estado, como força ativa, sempre em fuga, sempre em movimento.