Edições anteriores

  • ESCRITA DE MIGRANTES, REFUGIADOS E EXILADOS: A LITERATURA COMO CONEXÃO
    v. 18 n. 30 (2023)

    Editores do número: Gerson Roberto Neumann (UFRGS) e Ricardo Postal (UFPE)

     

    A localização e a historicidade, bem como as imbricações do poder e das colonialidades na literatura, tudo isso gera situações de tensão, muitas delas refletidas na literatura numa época em que as mobilidades populacionais e a consequente apresentação dessas trajetórias em obras narrativas e poéticas demandam abordagens e conceitualizações diversas. Isso “[p]orque a época atual é uma época da rede. Ela demanda concepções de ciência móveis e relacionais, transdisciplinares e transareais e uma terminologia orientada pelo movimento” (ETTE, apud CAPAVERDE, 2021, p. 299). Portanto, propomos as discussões a partir da amplitude de possibilidades do conceito de “Literaturas do Mundo”, como elaborado pelo teórico comparatista alemão Ottmar Ette (2016, p. 13), em que se “mostra que as formas de produção, de recepção e de distribuição da literatura, em escala planetária, não se alimentam de uma única ‘fonte’, não são reduzíveis a uma única linha de tradição, como à tradição ocidental, por exemplo."

    Tal perspectiva está presente nos projetos decoloniais do Grupo Modernidade/Colonialidade, a partir da qual se realiza um reposicionamento epistemológico em que “[a] crítica à modernidade da perspectiva decolonial concebe que a emancipação [...] só será possível uma vez que a subalternização de experiências e de epistemologias instituídas pela modernidade seja suplantada" (BALTAR, 2020, p. 38). Isso só é possível através de “um outro estatuto de alteridade, estabelecido pela transmodernidade” (idem), conceito este desenvolvido por Mignolo e Walsh (2018) e por Enrique Dussel, que o define como: “todos os aspectos que se situam ‘além’ das (e [...] ‘anteriores às’) estruturas valorizadas pela cultura euro-americana moderna, e que atualmente estão em vigor nas grandes culturas universais não europeias e foram se movendo em direção a uma utopia pluriversal.” (DUSSEL, 2016, p. 63). Esses movimentos podem ser mapeados pelos modos como se apresentam populações em (des)locamento, em obras cujos temas, perspectivas narrativas e linguagem elaborem a migração, a viagem, o exílio e o refúgio.

    Nesse sentido, o presente número da Revista Conexão Letras propõe observar a participação social e o direito à voz das pessoas migradas por meio de sua produção literária, a saber, considerando-as tradutoras culturais por meio da autoria literária. A compreensão da produção literária existente, dessa forma, é também de um medium privilegiado de integração, que mobiliza a articulação entre a cultura de origem e a de acolhida.

    A autoria literária, nesse sentido, abre-se como um caminho de inserção intercultural para além da dimensão de um multiculturalismo funcional, cujo objetivo assenta-se exclusivamente na promoção de uma integração dos sujeitos migrantes na lógica do sistema econômico, sem abertura para questões próprias à sua bagagem cultural (Walsh, 2009). Por meio de narrativas e poéticas de sujeitos (des)locados é possível vislumbrar uma dimensão da interculturalidade que impulsione a chegada a universos culturais ricos em processos de alteridade e que sejam capazes de ressignificar o olhar sobre os migrantes, exilados, refugiados, bem como sobre a cultura de acolhida.

  • Linguagem e psicanálise: teoria, clínica, política
    v. 18 n. 29 (2023)

    Organizadores: Fábio Ramos Barbosa Filho (UFRGS) e Lauro José Siqueira Baldini (UNICAMP)

     

    Desde Freud, a linguagem parece ocupar um lugar fundamental na reflexão sobre o funcionamento do inconsciente, figurando tanto como condição quanto como lugar de observação desses processos na fal(h)a cotidiana. Além de um interesse pela linguagem que pode ser, sem exageros, balizado por um interesse na(s) língua(s), o pai da psicanálise coloca no centro de suas reflexões um interesse incisivo pelas linguagens da arte, do literário e da cultura. Freud, portanto, nunca deixou de considerar a linguagem como condição de existência da psicanálise, definida como prática que supõe a fala em suas múltiplas facetas, mas que, para além da clínica, sustenta a psicanálise como um “método de investigação”. Não tão longe de Viena, o linguista Ferdinand de Saussure se ocupa de anagramas, investiga a poesia latina e o folclore germânico e, ao mesmo tempo, produz um abalo epistemológico com a sua teoria de que num sistema os elementos não valem por si, mas pelas relações que estabelecem com outros elementos vazios, negativos e opositivos, dando início não apenas à linguística moderna, mas à avassaladora aventura teórica chamada de estruturalismo. Ora, se como afirmou Jean-Claude Milner, “o campo freudiano é coextensivo ao campo da palavra”, o que pode significar essa coextensão? Propomos, na trilha dessa pergunta, um número dedicado à escuta das relações entre esses campos. Serão aceitos trabalhos que abordem as relações, fronteiras e impasses entre os mais diversos campos dos estudos da linguagem e a psicanálise, em suas dimensões teóricas, clínicas e políticas.

  • Modelagens do passado literário dentro e fora da ficção no século XIX
    v. 17 n. 28 (2022)

     

    Organização: Rafael Brunhara, Bruna Nunes, Rafael Souza Barbosa

    Este número da Conexão Letras propõe discutir os sentidos do passado literário na reflexão sobre literatura dentro e fora do texto literário. Um amplo elenco de questões emerge: em que medida os discursos sobre o passado em geral se conectam com os discursos específicos sobre o passado literário? de que maneira o que se busca no passado afeta configurações do presente e projeções do futuro na literatura e fora dela? que lugar é atribuído às coletividades evocadas ou construídas através da literatura em narrativas históricas mais amplas (histórias globais, colonialismo, centro/periferia)? que posições ou papéis os sujeitos desses discursos se atribuem nas narrativas históricas que constroem? o que nos diria uma comparação entre discursos dentro e discursos fora do texto literário? quais as possibilidades de leitura das textualizações do presente (romance e drama de costumes, representações da Modernidade na lírica e na épica) a partir das reflexões implícitas ou explícitas sobre o passado literário? como se legitimam ou deslegitimam dentro e fora do texto literário, as tentativas de transformação, inovação e ruptura estéticas? quais os usos e o potencial do rebaixamento e da paródia na leitura do passado literário?

  • Performatividade e Enunciação
    v. 17 n. 27 (2022)

    A performatividade tem sido pensada na relação entre a palavra e o corpo; nos movimentos da história, novas ações e embates sociais questionam as convenções; o sucesso e o insucesso tampouco excluem um ao outro nas divisões de sentido. E a ética é sempre e cada vez mais uma questão para a produção de conhecimento e para a vida em sociedade. Este número então convida a reflexões sobre os modos de significar e sobre a performatividade da certeza e/ou da incerteza em enunciações contemporâneas, abrindo espaço para a análise de textos literários e não-literários, e para temáticas diversas.    

  • Memória e esquecimento
    v. 16 n. 26 (2021)

    Este número da Conexão Letras se ocupa da memória e do esquecimento, com toda a amplitude que o tema pode evocar. Os artigos e resenhas desse número debatem temáticas como narrativa memorialística, memória individual e coletiva, usos políticos do passado, usos do esquecimento, políticas da memória, arquivo, entre outros.
  • Questões de enunciação
    v. 16 n. 25 (2021)

    Este número da revista Conexão Letras é dedicado às questões de enunciação. O que objetivávamos, quando propusemos a sua organização? A ideia geral que norteou nosso empenho foi a de oportunizar um espaço de divulgação de pesquisas e de reflexões que permitissem a elaboração de uma espécie de fotografia  dos trabalhos que têm sido feitos no campo atualmente, seja em instituições brasileiras, seja em instituições estrangeiras.
  • Letras Clássicas
    v. 15 n. 24 (2020)

    Publicada ininterruptamente e com qualidade desde 2005, a revista Conexão Letras é uma das mais tradicionais do  Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É um grande orgulho, portanto, para os organizadores deste número preparar a primeira edição da Conexão Letras dedicada inteiramente às Letras Clássicas – denominação acadêmica para os estudos da Antiguidade, especialmente o grego clássico e o latim.
    Assim como a revista, os cursos de grego e latim na UFRGS têm também uma duradoura e tradicional história. O nascimento das habilitações em Português/Grego e Português/Latim coincidem com a própria fundação do curso de Letras na Universidade, em 1942, o que o torna um dos mais antigos cursos de Letras Clássicas em atividade no país. Essa longevidade também se mostra nos diversos cursos de grego e latim espalhados pelo Brasil e é representada, como se verá, pelos autores que contribuíram para este volume e pela equipe de pesquisadores que o organizou, situados em universidades do norte ao sul do país. Uma área de longa data, mas em constante renovação: base para o desenvolvimento das ciências humanas contemporâneas (por meio da preservação, reconfiguração e/ou adaptação de conceitos surgidos na Antiguidade Clássica) e ponto de encontro entre disciplinas, os Estudos Clássicos são um campo naturalmente inter, multi e transdisciplinar.

  • Autores no exílio; exílio nas obras literárias: banimento, refúgio ou retiro
    v. 15 n. 23 (2020)

    Exílio – pequena palavra em que cabe uma numerosa diversidade de ocorrências, situações, realidades concretas. Quantas vivências, representações e imagens nela ressoam? Quantas impressões, evocações e associações ela contém? Quantas emoções, sentimentos e ressentimentos ela condensa? Quantas alegrias e felicidades, quantos abalos, feridas, traumas, destruições? Uma infinidade!
    Porém, se nos circunscrevermos à caracterização do fenômeno e à definição lexical do termo, constata-se que a polissemia do vocábulo costuma remeter a três tipos de situação, causa ou motivação do exílio.
    A) Por um lado, o desterro forçado, seja por imposição de um poder, seja para tomar distância e fugir de ameaças, perseguições, perigos, repressões.
    B) Por outro lado, a expatriação voluntária como fruto de uma livre escolha, seja para sair em busca do novo, ir atrás de uma vida melhor ou valer-se de uma oportunidade, seja para contornar limitações, dificuldades, obstáculos, proibições, etc., seja para responder a um apelo (íntimo ou não) que é atendido em consideração a aspirações, ideais e valores pessoais ou culturais de ordem artística, humanística, política, profissional, religiosa ou outras.
    C) Outrossim, por extensão e no sentido figurado, a palavra refere às diversas formas de afastamento ou distanciamento do convívio social, de refúgio ou retiro em um local ermo para dedicar-se a uma obra, atividade ou exercício artístico-literário, ecológico, intelectual, mental, ético, espiritual, religioso, místico ou outro.

  • Políticas e discursos totalitários
    v. 14 n. 22 (2019)

    A emergência do Estado-Nação nas sociedades modernas, a partir do sec.xix, coloca em cena, notadamente, relações igualitárias, em termos de compromissos do Estado para com os cidadãos e dos cidadãos para como o Estado, devendo tais relações caracterizar o bom funcionamento da res pública e a busca de um maior equilíbrio social entre os diferentes setores, atendendo às necessidades coletivas.
    A partir desta ótica, o exercício da democracia não pode ser reduzido ao exercício da política com fins meramente imediatistas e que visem a privilegiar um determinado conjunto de instituições em detrimento de outras. Este não pode estar apartado ou acima da sociedade civil e necessita, fundamentalmente, pautar-se por deliberações equânimes, configurando-se como governabilidade para todos, sem distinções étnicas, religiosas ou lingüísticas.
    No entanto, os regimes de feição totalitária ao colocarem o poder de Estado acima dos interesses públicos, da sociedade, passam a violar a democracia, tanto da perspectiva jurídica como política, colocando as ações do Estado a serviço de interesses hegemônicos de determinados segmentos da sociedade em detrimento de outros, abolindo, portanto, as práticas de representatividade dos interesses da sociedade e, por fim, dando lugar à naturalização de políticas corporativas como a implementação de leis independentes da aprovação das Câmaras, Senados, deliberações institucionais que não atendem ao bem estar social e diferentes modalidades de práticas de violência como a intolerância às minorias, o racismo, a xenofobia, a exploração do trabalho de menores e dos refugiados de países pobres e em guerra, o feminicídio, o tráfico de armamentos, entre outras, e que vêm a contribuir com o processo de destruição da própria sociedade, desmantelando, em última instância, o Estado de Direito.

  • O sujeito e a escritura: literatura, memória e imaginário nas literaturas em lingua portuguesa
    v. 14 n. 21 (2019)

    Abrimos o dossiê com as Reflexões sobre a crítica pós-colonial e a questão da mestiçagem no romance Estação das chuvas, de José Eduardo Agualusa, de autoria do professor José Luís Giovanoni Fornos, em que apresenta conceitos e temas da chamada crítica pós-colonial, recorrendo aos seus principais estudiosos. Nessa ordem, o autor realiza uma análise da ficção de Agualusa, considerando o tema da miscigenação. Para tanto, retoma um capítulo do livro em que duas personagens discutem o papel da literatura e da negritude no contexto de resistência angolana ao colonialismo português. As conclusões do debate referendam os posicionamentos favoráveis das personagens de Agualusa em torno da mestiçagem como elemento significativo da democracia social. Na sequência, José Paulo Cruz Pereira, da Universidade do Algarve apresenta o estudo intitulado Mia Couto: Vinte e Zinco – ou “O Gozo da História” no qual debate as questões políticas e culturais relacionadas, não apenas à ditadura de Salazar e de Marcelo Caetano, mas também com o regime colonial português em Moçambique. Partindo de uma análise das implicações do título, nela se examinam, com particular atenção, não apenas a modelação das personagens mais diretamente afetadas pelo poder instituído, mas também a daquelas mais próximas da instância da escrita.
  • Poéticas do presente: escritura, política, imagem
    v. 13 n. 20 (2018)

    Experimentamos a literatura em estado de crise, as textualidades da perplexidade e da inconformidade, feitas de tempos diversos e de diversidades, que afetam, ocupam o sensível e instauram novos regimes a partir das políticas destruidoras do político: o terrorismo das ditaduras; o apagamento ou isolamento do outro; o silenciamento das mulheres; a imposição de regras cerceadoras da livre expressão. “É guerra, é guerra”, “é o fim da política”, nos alerta o pesquisador Alberto Pucheu, em Para que poetas em tempo de terrorismo? (2017). Como a voz em estado contemporâneo de Pucheu, os textos aqui reunidos traçam leituras desde outros textos que surgem da perplexidade, que rearranjam suas possibilidades perante a guerra contemporânea; denunciam ausências ou presenças invasoras e invasivas; e apelam para um saber sobreviver, surviver, no sentido dado por Walter Benjamin, da e pela letra: o desafio do viver com, do viver junto.

  • A Análise do Discurso
    v. 12 n. 18 (2017)

    A Análise do Discurso constitui-se como área de investigação em um espaço heterogêneo, o que se manifesta não somente nas linhas teóricas e metodológicas que conduzem os trabalhos incluídos neste número da Revista Conexão Letras, mas também através dos temas abordados e dos corpora estudados.
    Como resultado da Chamada a fim de participar deste número da Revista, obtivemos como resposta um conjunto de artigos que estabelecem entre si um diálogo frutífero implícito, mesmo quando alguns acentuam a reflexão sobre aspectos teóricos e, outros, os achados de análises de discursividades específicas.
    Os textos selecionados estão atravessados pela diversidade de linhas teóricas em que se sustentam, como a Escola Francesa de Análise do Discurso, a Análise do Discurso Social, a Análise Crítica do Discurso, a Retórica e os estudos sobre a Teoria da Argumentação. Conceitos como interdiscurso, interpelação, memória discursiva, lugares de enunciação, comunidade discursiva, heteroglossia, hegemonia ou discurso dominante colocam no centro da cena o interesse por questionamentos em torno da produção social do sentido e contribuem para pensar sobre o funcionamento ideológico da linguagem.
    Junto com a multiplicidade de enfoques epistemológicos, destacamos a variedade de problemáticas abordadas, particularmente em relação com a história recente, a imigração e a identidade, tanto de gênero como cultural, nacional e política. Encontramos também pluralidade nos tipos de corpora analisados: oral e escrito, midiático, político, entrevistas e materiais de arquivos.
    Para além da heterogeneidade manifestada entre os diferentes artigos que compõem o presente número da Conexão Letras, a discussão entre eles está garantida por duas premissas compartilhadas de modo subjacente: a necessidade de considerar as condições materiais na análise da linguagem e o caráter intrinsicamente simbólico da construção da realidade social. Pontos de encontro que propiciam o debate e a crítica, sempre indispensáveis para a produção do conhecimento.

  • Tradução em foco: conexões e entremeios
    v. 12 n. 17 (2017)

    Em um momento histórico particularmente marcado pela necessidade de interlocução que ignora fronteiras estabelecidas, aproxima o que é distante e atualiza o passado, faz-se necessária uma discussão plural sobre o traduzir, considerando as diferenças próprias presentes na atuação profissional, na formação de tradutores e nas perspectivas de pesquisa no meio acadêmico.
    Por isso, colocar a tradução no centro de um debate que envolvesse seus mais diferentes aspectos e sob um conjunto de perspectivas teóricas, marcado pela diversidade foi o desejo comum das proponentes da temática Tradução em foco: conexões e entremeios para o número 17 da Conexão Letras.
    E a resposta à nossa chamada não poderia ter sido mais gratificante: recebemos artigos de pesquisadores vinculados a diferentes instituições de ensino do Brasil e de outros países, que nos trouxeram uma variedade de objetos de investigação no âmbito da tradução, abordados sob uma diversidade de linhas teóricas.
    Assim o conjunto de artigos aqui reunidos formou uma espécie de caleidoscópio, um conjunto de espelhos inclinados: cada espelho focando de seu ângulo um aspecto da tradução. Tradução ou traduções? Os espelhos aqui expostos ora marcam um ponto específico sobre a tradução, ora ampliam a discussão, estabelecendo conexões com outras áreas de conhecimento, ora ampliam a própria noção de tradução.

  • As contribuições Filosófico- Linguísticas do Círculo de Bakhtin para os Estudos Lingüísticos e Literários
    v. 11 n. 16 (2016)

    Este número torna-se especial para nós pelas razões que seguem: a) trata-se de nossa primeira publicação bilíngüe (Línguas Portuguesa e Inglesa) elaborada em conjunto por docentes da USP, UFPE,UNB, UFRGS e UNITAU com a colaboração especial do Prof. Craig Brandist, diretor do Centro de Estudos Bakhtin Centre - Universidade de Sheffi eld; b) as questões em torno das quais esta publicação está organizada foram objeto de discussões que se estenderam ao longo de um semestre, período em que os colaboradores refl etiram sobre como poderiam dar visibilidade a determinada produção científi ca tomando como alicerce fundamentos teóricos e analíticos do Círculo de Bakhtin. 

  • A carta testamento de Getúlio Vargas: vários olhares sobre um mesmo texto
    v. 11 n. 15 (2016)

    O documento conhecido como a Carta-Testamento de Getúlio Vargas constitui um dos mais importantes e conhecidos textos da história política do Brasil. Trata-se de uma carta datilografada, que foi encontrada na mesa de cabeceira do Presidente  e lida por telefone pelo então Ministro da Economia, Oswaldo Aranha, em transmissão nacional pelo rádio poucas horas após o suicídio do então presidente que, no dia 24 de agosto de 1954, encerrou sua vida com um tiro o peito. Foi novamente lida por ocasião do sepultamento.

    A carta foi endereçada ao povo brasileiro e sua leitura causou muita comoção, teve grande repercussão no país à época e desencadeou inúmeras manifestações  populares que evitaram um golpe de estado que se preparava. Com efeito, Vargas sempre procurou fazer acompanhar suas ações de efeito político e, com essa carta, busca justificar seu ato contra a própria vida, atribuindo a seus opositores a responsabilidade. Na Carta, Getúlio informa que deu cabo à própria vida devido a pressões de grupos internacionais e nacionais contrários ao trabalhismo. É um documento composto de duas laudas datilografadas, cujo texto constitui um rico exemplar para ser estudado de várias perspectivas teóricas.

  • Capa

    O Orphismo sob o olhar brasileiro.
    v. 10 n. 14 (2015)

    A idéia de Fernando Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro de criar a revista Orpheu deve ter surgido bastante cedo, como afi rma Robert Bréchon, o autor de Fernando Pessoa, estranho estrangeiro (1996), mas parece ter tomado forma pelo outono de 1914. O primeiro nome cogitado para a revista foi “Contemporânea”, em seguida “Lusitânia”, após “Europa”. Talvez o próprio Pessoa tenha proposto o nome “ Orpheu”, reportandonos
    ao mito grego. Ao som de sua música e do seu cantar, os animais amansavam-se e as copas das árvores curvavam-se em respeito. Era o que queriam os orphistas: eles tinham pretensões grandiosas quanto à sua arte.
    É Pessoa quem diz o que quer do Orpheu: “ Criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço. A nossa época é aquela em que todos os países , mais materialmente do que nunca,
    e pela primeira vez, intelectualmente, existem todos dentro de cada um, em que a Ásia, a América, a África e a Oceânia são a Europa, e existem todos na Europa. Basta qualquer cais europeu - mesmo aquele cais de Alcântara - para ter ali toda a terra em comprimido. E se chamo a isto europeu, e não americano, por exemplo, é que é a Europa e não a América, a fons et origo deste tipo civilizacional, a região civilizada que dá o tipo e a direção a todo o mundo.Por isso a verdadeira arte moderna tem de ser maximamente despersonalizada - acumular dentro de si todas as partes do mundo. Só assim será tipicamente moderna. Que a nossa arte seja uma onde a dolência e o misticismo asiático, o primitivismo africano, o
    cosmopolitismo das Américas, o exotismo ultra da Oceânia e o maquinismo decadente da Europa se fundam, se cruzem, se interseccionem. E, feita esta fusão espontaneamente, resultará uma arte-todas-as-artes, uma inspiração espontaneamente complexa... “(1915).

  • Intérpretes do Brasil
    v. 10 n. 13 (2015)

    O Brasil existe como um estado-nação há pouco menos de duzentos anos, se considerarmos como marco zero a ascensão do Estado do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves, por ordem do Príncipe Regente Dom João, em 16 de dezembro de 1815. Entretanto, as origens da imaginação de uma identidade brasileira remontam à transição da Idade Média para a Idade Moderna, mais precisamente à célebre Carta de Pero Vaz de Caminha (1500), em que o escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral dá notícia ao rei D. Manuel I sobre uma terra “de muito bons ares (...) em tal maneira (...) graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. A Carta institui os fundamentos de uma persistente visão edênica do vasto território que viria a ser denominado Brasil, brilhantemente estudada por Sérgio Buarque de Holanda em Visão do paraíso. Antes mesmo de determinadas suas fronteiras geográficas e definido seu status legal, o Brasil é configurado simbolicamente nas narrativas com que os europeus, viajantes à terra brasilis ou observadores de segunda mão, vão inventando essa nova e excepcional entidade ultra equinotialem: More, Léry, Thévet, Montaigne, Staden, Campanella, Gândavo, e outros. Com o pouco interesse da Metrópole portuguesa pela região durante a maior parte do século XVI, poderíamos dizer que a fundação do Brasil se faz textualmente, através de seus primeiros intérpretes.
  • Estudos linguísticos e literários e suas interfaces com a filosofia marxista
    v. 9 n. 12 (2014)

    O número 12 da Revista ‘Conexão Letras’ intitulado ‘Estudos Lingüísticos e Literários e Suas Interfaces Com a Filosofi a Marxista’, que ora apresentamos, tem por objetivos fundamentais:

    • promover a divulgação e circulação de estudos  lingüísticos e literários desenvolvidos por pesquisadores que produzem conhecimento nestas áreas, alicerçados em fundamentos de teorias materialistas;
    • estabelecer diálogos fecundos entre diferentes leituras de bases materialista histórica e dialética inscritas nos domínios da Linguística e da Literatura, com vistas à produção de saberes com perfi s menos compartimentados e mais comprometidos com uma visão não- fragmentária de ciência e de produção de conhecimentos.
  • A noção de arquivo em Análise do Discurso: relações e desdobramentos
    v. 9 n. 11 (2014)

    O número 11 da revista Conexão Letras traz como tema “A noção de arquivo em Análise do Discurso: relações e desdobramentos” e constitui-se de um conjunto de artigos que discutem tanto aspectos teóricos quanto metodológicos acerca dessa noção. Esses artigos formam um quadro teórico de definições da noção de arquivo, situando-a como “um nó em uma rede” formada por outras noções fundamentais para a Análise do Discurso, como formação discursiva, memória e autoria. E fundamentados nessa perspectiva
    teórica, apresentam um leque de possibilidades de análise sobre a circulação e a leitura de
    objetos de arquivo em diferentes materialidades, mostrando gestos de recorte, articulação,
    deslocamento, retorno...
  • História das ideias: nos domínios da língua(gem)
    v. 8 n. 10 (2013)

    Este volume da Revista ‘Conexão Letras’, intitulado ‘História das Ideias: nos domínios da língua(gem) ’ tem como proposta dar destaque :

    a) a estudos realizados por pesquisadores eslavistas que atuam em universidades europeias e latino-americanas e pesquisadores brasileiros que vêm desenvolvendo pesquisa acerca da Semiótica russa e da produção do Círculo de Bakhtin;

    b) a estudos desenvolvidos em torno de questões discursivas, sócio-políticas e históricas embasadas em pressupostos da Análise do Discurso.

    Ao privilegiar correntes teóricas que apresentam suas próprias especifi cidades, por um lado a Semiótica de vertente russa e, por outro, a Análise do Discurso de vertente francesa, fomos guiados por uma busca de pontos de contato entre estas áreas de conhecimento, que podem ser caracterizados, sobretudo, por: I) investigar as formas através das quais a ordem simbólica – a língua – é afetada por determinações históricas; II) caracterizar modos de produção e funcionamento dos discursos e dos sentidos a partir da inscrição de princípios teóricos e práticas analíticas em fundamentos dos materialismos histórico e dialético.

  • Quando foi o pós-colonial? Diálogos, perspectivas e limiares nas literaturas luso-africanas
    v. 8 n. 9 (2013)

    Temos o prazer de trazer a público o número 9 da Revista Conexão, intitulada “Quando foi o pós-colonial? Diálogos, perspectivas e limiares nas literaturas luso-africanas”.

    Através desta temática, propusemos a reflexão em torno de um dos temas mais polêmicos das literaturas de língua portuguesa hoje. Margarida Calafate Ribeiro (CALAFATE RIBEIRO, 2004, p. 1-3) diz que não há um pós-colonialismo, há pós-colonialismos. Hamilton evoca Russell Jacoby e Appiah para mostrar as diferenças relativas ao entendimento do pós-colonialismo: para uns refere-se a sociedades surgidas com a chegada dos colonizadores, para outros, ao período que se inicia com a independência. Para uns, o termo "colonial" refere-se apenas à América Latina, África e regiões da Ásia, para outros abrange também Canadá, Nova Zelândia e Austrália e EUA. Russel Hamilton esclarece que pós-colonial (assim, com hífen) refere-se a depois do período colonial, enquanto pós-colonial inclui elementos do colonialismo ou rejeita as instituições por ele impostas. Esta é uma das questões mais complexas em relação à situação africana. Se do ponto de vista temporal (histórico) reconhecer o pós-colonialismo é o maior respeito que se pode prestar àquelas nações, por outro, quando africanistas e africanos o negam , então, é preciso buscar suporte para a negação que vai além do econômico, não está vinculada unicamente à condição dos países no pós-independência, está na relação com o Ocidente e na visão de si próprio.  Assim, embora o conceito pós-colonial tenha se tornado uma palavra chave para afirmar nossa parte como sociedades multicultural e multirracial, sua importância é atualmente mais profunda.

  • As línguas e as literaturas de língua portuguesa e brasileira
    v. 7 n. 8 (2012)

    Através deste fascículo voltado para o tema “As Línguas e as Literaturas de Língua Portuguesa e Brasileira[1]” buscamos refletir em torno do universo de pesquisas sobre questões de linguagem e questões de Literatura que possibilitam que caracterizemos tanto os laços históricos e culturais que permitem entrecruzar as realidades dos contextos brasileiro e lusitano, como as peculiaridades que são próprias da produção literária e lingüística de cada contexto e que traduzem as identidades múltiplas que emergem de uma história que não pode ser tratada como estável, em termos de concepções de mundo, realidades sociais, culturais, escalas valorativas, seleções de usos de linguagem e formas de produção de gêneros discursivos.


    [1] Entendemos que  embora a designação oficial de nossa língua seja a mesma adotada por Portugal, também concordamos com a posição de Antonio Houaiss em “O Português do Brasil” (1985: 8) de que há uma gama de diferenças, em todos os níveis como o fonético, morfológico, sintático e semântico, entre o Português falado no Brasil e o Português de Portugal, que nos obriga a abandonarmos o ideal de “unidade lusofônica.”

  • O Funcionamento da tradução e os desafios da experiência de traduzir
    v. 7 n. 7 (2012)

    O sétimo volume da  REVISTA CONEXÃO intitulado ‘O Funcionamento da Tradução e os Desafios da Experiência de Traduzir’ propõe-se a apresentar estudos desenvolvidos  nas áreas de Linguística e de Literatura em torno da temática da tradução. Queremos dar destaque, a este tema, por entender que se trata de uma área de estudos que necessita de produção científica no Brasil.

    O ato de traduzir, como uma prática logocêntrica, requer um acúmulo de saberes e de experiências que envolvem, notadamente, diálogos entre diferentes áreas de conhecimento e entre múltiplas culturas. É a partir de tais diálogos que emergem as reflexões acerca das possibilidades de obtenção de equivalências de sentido entre línguas, e  que, não raro, precisam traduzir realidades que parecem ser intransponíveis e que, por isso, tornam-se, não raro, pouco acessíveis à prática da tradução.

    Não obstante tais dificuldades façam parte da realidade de trabalho do tradutor, como problemas que se armam em seu cotidiano e que demandam soluções objetivas, não é com base em alternativas puramente logocêntricas que o tradutor irá resolvê-las, pois nas práticas tradutórias também entram em jogo juízos de valor, “vácuos” temporais entre os textos que são objeto da tradução e os textos a serem traduzidos, bem como formas subjetivas de apreensão das determinações históricas que subjazem aos textos a serem traduzidos. 

  • Literaturas das Américas: entre memória e esquecimento
    v. 6 n. 6 (2011)

    É oportuna, neste início do século XXI, a preocupação com as relações entre memória e literatura, tendo em vista a emergência de gêneros que têm na memória a base de sua construção como a autobiografia, a autoficção, as escritas de testemunho e até mesmo as que emergem através das redes sociais como os blogs.

    O par memória/esquecimento não se coloca em oposição dialética; o esquecimento é elemento constitutivo da própria memória que não pode se manifestar sem os processos de esquecimento, de seleção e de reconstituição através de vestígios e/ou indícios que favorecem o trabalho de preenchimento das lacunas deixadas por lembranças interrompidas.

    Nesse sentido, o presente número de Conexão Letras procurou centrar-se na análise das estratégias utilizadas por autores das literaturas das Américas de construir uma memória longa ou de longa duração, com base na recuperação de fragmentos memoriais em circulação no contexto crioulizado das Américas. Foi proposto aos autores dessa edição que refletissem sobre as estratégias que determinam, de um lado, o trabalho, o dever e os abusos de memória, e, de outro, o esquecimento, o não-dito e os mecanismos ativadores de memórias reinventadas. A sexta edição de Conexão Letras corresponde, portanto, a uma tentativa de flagrar o trabalho da anamnese que revela os resíduos oriundos da confluência de memórias voluntárias e involuntárias, inventando temporalidades que a história foi incapaz de reter.

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