Pressupostos para ler a educação intercultural no Brasil colonial a partir da missão jesuítica
DOI:
https://doi.org/10.22456/1983-201X.99070Palavras-chave:
História da educação, Modernidade, Educação Intercultural, Jesuítas, TupinambáResumo
Este trabalho apresenta considerações sobre a presença jesuítica na América portuguesa ao longo da primeira metade do século XVI e os processos educativos propostos pelos missionários desta ordem para um grupo específico: o Tupinambá. A partir deste objetivo, tenciona-se questionar alguns pressupostos epistêmicos ligados à história e historiografia da educação brasileira. Nesse sentido, questões teórico-metodológicas fundamentadas em uma história da educação focalizada nos estudos pós-coloniais, na história cultural e nos estudos interculturais críticos são apresentadas ao leitor. Em
seguida, demonstram-se alguns dos pressupostos ligados à constituição da ideia de modernidade europeia e um de seus desdobramentos: a expansão colonial luso-cristã e suas práticas pedagógicas interculturais funcionais aos domínios do Império português. Esta conexão, conforme assinalado, é analisada a partir daquilo que chamamos de a demonização da alma indígena. Toma-se, pois, esse itinerário como caminho para valorização da lei 11.645/2008, que estabelece o reconhecimento e a valorização da história e cultura afro-brasileira e indígena, a partir da escrita de uma nova história da educação.
Downloads
Referências
AGNOLIN, Adone. Jesuítas e Selvagens. A negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (sec. XVI-XVII). São Paulo: Humanitas Editorial, 2007.
AGNOLIN, Adone. O Apetite da Antropologia. O sabor antropofágico do saber antropológico: alteridade e identidade no caso tupinambá. São Paulo: Humanitas, 2005.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: EdUFMG, 1998.
BLOCH, Marc. Apologia da história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BOXER, Charles. A Igreja e a expansão ibérica (1440-1700). Lisboa: Edições 70, 1981.
CARTAS JESUÍTICAS (1549-1594). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988. 3 vols.
CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. Operários de uma vinha estéril. Os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil: 1580-1620. Tradução de Ilka Stern Cohen. Bauru: EdUSC, 2006.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
CRESSONI, Fábio Eduardo. Os Exercícios Espirituais e a construção da identidade pio mercantil jesuítica. In: CRESSONI, Fábio Eduardo (Org.). Educação, sociedade e cultura na América portuguesa. Estudos sobre a
presença jesuítica. Curitiba: CRV, 2012. p. 16-38.
DERRIDA, Jacques. L’écriture et la différence. Paris: Seuil, 1967.
DUSSEL, Enrique. 1492, o encobrimento do outro. A origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993.
DUSSEL, Enrique. Europa, modernidad y eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo (Org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales, perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2000.
EISENBERG, Jose. As missões jesuíticas e o pensamento político moderno: encontros culturais, aventuras teóricas. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
FABRE, Pierre-Antonie. Ils iront em pèlerinage... L’ “expérience” du pèlerinage selon l’ “Examen général” dês Constitutions de la Compagnie de Jésus et selon les pratiques contemporaines. In: BOUTRY, Philippe; FABRE, Pierre-Antoine; JULIA, Dominique. Rendre ses voeux. Les identites pelerines dans l’Europe moderne (XVIXVIII siecles). Paris: Editions de l’Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, 2000. p. 159-188.
FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade Tupinambá. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 1970.
FERNANDES, Florestan. Organização social dos Tupinambá. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1963.
GASBARRO, Nicola. Missões: a civilização cristã em ação. In: MONTERO, Paula (Org.). Deus na aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006. p. 67-109.
HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.
HANSEN, João Adolfo. O nu e a luz: cartas jesuíticas do Brasil. Nóbrega: 1549-1558. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 38, 1995. p. 87-119.
HARTOG, Francois. O espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro. Tradução de Jacyntho Lins Brandao. Belo Horizonte: EdUFMG, 1999.
HERNANDES, Paulo Romualdo. Os exercícios espirituais e o teatro. In: PAIVA, José Maria de; BITTAR, Marisa; ASSUNCAO, Paulo de (Orgs.). Educação, história e cultura no Brasil Colônia. São Paulo: Arke, 2007. p. 59-72.
HOEFFNER, Joseph. La ética colonial española del siglo del oro. Madri: Cultura Hispânica, 1957. JANSEN, T. Devotio Moderna [verbete]. In: Lexicon. Dicionário teológico enciclopédico [Dizionario teologico
enciclopedico]. São Paulo: Loyola, 2003. p. 191- 192.
KANTOROWICZ, Ernest H. Os dois corpos do rei: um estudo sobre teologia política medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
METRAUX, Alfred. A religião dos Tupinambás e suas relações com as demais tribos tupi-guarani. 2. ed. São Paulo: Nacional: Edusp, 1979.
MIGNOLO, Walter D. Histórias locais, projetos globais. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003.
MONTERO, Paula. Índios e missionários no Brasil: para uma teoria da mediação cultural. In: MONTERO, Paula (Org.). Deus na aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006. p. 31-66.
NÓBREGA, Manoel da. Diálogo sobre a conversão do gentio [1556-57]. In: Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil. vol. II. LEITE, Serafim (org.). São Paulo: Comissão do quarto centenário da cidade de São Paulo, 1956.
p. 317-345.
O’MALLEY, John W. Os primeiros jesuítas. Tradução de Domingos Armando Donida. São Leopoldo: Ed. Unisinos; Bauru: EdUSC, 2004.
PAIVA, Jose Maria de. Colonização e Catequese (1549-1600). São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1982.
PAIVA, Jose Maria de. Religiosidade e cultura brasileira: séculos XVI-XVII. Maringá: EDUEM, 2012.
PÉCORA, Alcir. Teatro do sacramento. A unidade teológico-retórico-política dos sermões de Antonio Vieira. São Paulo: Edusp; Campinas: Unicamp, 1994.
POMPA, Cristina. Profetas e santidades selvagens. Missionários e caraíbas no Brasil colonial. Revista Brasileira de História, v. 21, n. 40, 2001.
POMPA, Cristina. Religião como Tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EdUSC, 2003.
QUIJANO, Aníbal. La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Clacso, 2000.
RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. A representação do índio de Caminha a Vieira. São Paulo: Edusp: Fapesp; Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e; GONÇALVES, Luis Alberto Oliveira. Multiculturalismo e educação: do protesto de rua a propostas e políticas. Educação e Pesquisa. São Paulo. v. 29, n. 1, p. 109-123, jan./jun. 2003.
TUBINO, Fidel. La interculturalidad crítica como proyecto ético-político. In: Encuentro continental de educadores agustinos. Lima, 24-28 de enero de 2005. Disponível em: http://oala.villanova.edu/congresos/educación/
lima-ponen-02.html. Acesso em: 09. dez. 2015.
VANDENBROUCKE, Francois. Spiritualitá del Medioevo. Nuovi ambienti e nuovi problemi (sec. XII-XVI) [La Spiritualite du Moyen Age] Bologna: Edizioni Dehoniane, 1969.
VAUCHEZ, Andre. A espiritualidade na Idade Média Ocidental. Séculos VIII a XIII. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
WALSH, Catarine. Interculturalidad crítica y educación intercultural. Versão ampliada da comunicação apresentada no Seminário “interculturalidad y Educación Intercultural”. Instituto Internacional de Integração Andrés Bello (Org.). La Paz, 09-11 de março de 2009. Disponível em: file:///C:/Users/PESSOAL/Downloads/interculturalidad%
critica%20y%20educacion%20intercultural%20(C.%20WASH).pdf. Acesso em: 09 dez. 2015.
XAVIER, Angela Barreto; HESPANHA, Antonio Manuel. A representação da sociedade e do poder. In: HESPANHA, Antonio Manuel (Org.). História de Portugal. O Antigo Regime (1620-1807). Vol IV. MATTOSO, Jose
(Dir.). Lisboa: Estampa, 1993. p. 121-51.